Título: Caça a fantasmas dos aloprados
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 26/01/2007, O País, p. 3

Executiva do PT vai discutir expulsão de envolvidos com venda de dossiê contra tucanos

Aexecutiva nacional do PT vai tentar enterrar de vez um fantasma que ainda assombra os petistas. No próximo dia 30, terça-feira, o comando do partido deve pôr em pauta a instalação de um processo no conselho de ética da legenda para a expulsão do ex-secretário do Ministério do Trabalho Osvaldo Bargas e do ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso. Os dois foram citados no escândalo da compra de um dossiê contra os tucanos por R$1,7 milhão, durante o período eleitoral, no ano passado. Eles permanecem filiados ao PT, o que tem causado grande constrangimento à cúpula do partido.

Outro motivo de embaraço é que o processo será comandado pelo presidente do partido, Ricardo Berzoini (PT-SP), que chegou a ser afastado do cargo pelo envolvimento no caso. Será a primeira reunião presidida por ele desde que reassumiu o comando do PT, no início do mês. Foi durante a gestão de Berzoini na coordenação da campanha de reeleição de Lula que os ¿aloprados¿ agiram para comprar documentos em poder do empresário Luiz Antonio Vedoin, chefe da máfia dos sanguessugas e dono da Planam, a empresa que superfaturou a compra de ambulâncias com recursos da União.

A decisão de iniciar um processo de cassação contra Bargas e Expedito Veloso transformou-se em consenso na executiva. Isso porque, diferentemente de outros envolvidos no escândalo, como Hamilton Lacerda, ex-assessor do senador Aloizio Mercadante (SP), e o ex-chefe do serviço de inteligência do PT e ex-diretor do Besc Jorge Lorenzetti, eles não pediram a desfiliação do partido. Todos os citados no episódio da compra do dossiê ficaram conhecidos no PT como ¿os aloprados¿, depois que termo foi usado pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, num desabafo em setembro, durante a campanha.

A iniciativa de pôr o assunto em pauta partiu dos representantes das tendências mais radicais e de centro. Ontem, a vice-presidente do PT, deputada Maria do Rosário (RS), defendeu que o partido resolva de forma definitiva a desfiliação de Bargas e Expedito Veloso. Ela integra a tendência Movimento PT.

¿ O PT deve enfrentar essa questão e colocar no conselho de ética os casos de Expedito e Bargas. A tendência é de todos concordarem, até para este não ser o tema principal da reunião. Não queremos paralisar o PT por causa deste assunto. Essa prática política adotada erroneamente por esses petistas trouxe muito prejuízo ao partido. O PT não pode aceitar isso. Temos que abrir o processo de expulsão e com isso limpar essa história da pauta do PT ¿ disse ela.

Soriano: PT não vai investigar Mercadante

Já o secretário-geral adjunto do PT, Joaquim Soriano, classifica a permanência de Bargas e Expedito como uma situação ¿esdrúxula¿. Ele lembra que, no dia 6 de outubro, todos os ¿aloprados¿ foram afastados do partido por uma decisão da executiva por um prazo de 60 dias. Mas enquanto Lorenzetti e Hamilton Lacerda deixaram o PT de forma espontânea, os outros dois ficaram no partido.

¿ Essa é uma situação esdrúxula na qual a executiva tem que colocar um ponto final. Bargas e Expedito haviam sido suspensos por 60 dias. Mas esse prazo passou e os dois continuam no PT. Por isso, deve-se abrir imediatamente o processo no conselho de ética. O partido não pode conviver mais com esse tipo de anomalia.

Mas Soriano descartou a possibilidade de o partido debater uma eventual investigação ou expulsão do senador Aloizio Mercadante. No fim do ano passado, Mercadante foi um dos sete indiciados pela Polícia Federal no episódio da compra do dossiê. Mas Soriano lembra que a própria executiva do PT já assinou uma nota em defesa do senador petista, criticando a investigação da PF. Já Maria do Rosário diz que não haverá constrangimento em Berzoini colocar o tema em pauta, mesmo tendo sido o chefe dos ¿aloprados¿.

¿ Na ocasião, Berzoini solicitou o afastamento do PT. Ele não foi sequer citado no relatório da Polícia Federal. Por isso, não há motivo para constrangimento ¿ observa Maria do Rosário.

Procurado pelo GLOBO, o próprio Berzoini disse que, como presidente do partido, não teria problema em colocar em pauta o processo no conselho de ética contra Bargas e Expedito Veloso. Ele negou que estivesse constrangido.

¿ Esse é um processo estatutário simples. Colocar isso em pauta não me causa qualquer constrangimento. E, como presidente do partido eu tenho que discutir todos os assuntos que são levantados na executiva ¿ disse Berzoini.

Segundo Berzoini, os temas mais importantes da reunião são a disputa pela presidência da Câmara, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a participação do PT no segundo governo Lula. Soriano também considera esses pontos mais relevantes do que os ¿aloprados¿:

¿ Vamos fazer uma avaliação da situação atual e a relação do PT com o governo, inclusive sobre a manutenção de cargos no governo.