Título: Mais renda e desemprego alto
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 26/01/2007, Economia, p. 23

Taxa de desocupação cai na Era Lula, mas ainda está em 10%. Salário sobe 5,6%

Omercado de trabalho nos quatro anos do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou mais 8,6% de vagas, o que acrescentou 2,4 milhões de trabalhadores ao universo de ocupados apenas nas seis principais regiões metropolitanas do país, reduzindo a taxa de desemprego de 12,3% no primeiro ano de governo para 10% no ano passado. Em 2006, a quantidade de vagas criadas desacelerou, o que fez, pela primeira vez em quatro anos, a taxa de desemprego média anual ter ligeira alta, passando de 9,8% em 2005 para 10% no ano seguinte. Os números são da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgada ontem pelo IBGE, que mostraram também que o rendimento cresceu 5,6% frente a 2003, apesar de ainda se manter 6,8% abaixo do salário médio real (descontada a inflação) de 2002. Em dezembro, os ganhos eram de R$1.072,30. No último mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, o rendimento já havia caído 10,93%.

¿ No ano passado, houve melhora qualitativa no mercado de trabalho, com alta de 4,3% no rendimento e com mais emprego formal. Mas, em número de vagas, o desempenho foi pior (ocupação cresceu 2,3% em 2006 contra 3% em 2005). Não geramos tantas ocupações quanto em 2005 e 2004, por isso o desemprego não caiu ¿ disse Cimar Azeredo, gerente da PME, pesquisa que acompanha o mercado de trabalho no Rio, em São Paulo, Recife, Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre.

Essa melhoria citada por Azeredo está sustentada no aumento do salário e do emprego com carteira assinada. Enquanto o número de empregados sem carteira assinada teve expansão de 3,1%, o universo de trabalhadores com o documento subiu 13,3% de 2003 a 2006. E, no ano passado, o contingente de pessoas contratadas sem carteira chegou a cair 3,5%. Esse avanço fez aumentar a parcela dos trabalhadores que contribui para a Previdência, que subiu 11,9%, de 61,2% em 2003 para 63,1% no último ano.

¿ A oferta de mão-de-obra cresceu muito este ano, por isso, vimos esta praticamente estabilidade na taxa de desemprego. As eleições e a alta do rendimento atraíram mais gente para o mercado, aumentando a procura por emprego. Mas acredito que essa oferta comece a crescer mais devagar. Se a economia tiver uma expansão de mais de 4%, a tendência é o desemprego cair este ano ¿ disse o economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Marcelo de Ávila.

Trabalho doméstico avança com força

E a procura do trabalho cresceu nos últimos quatros anos pela primeira vez em 2006, aumentando o número de desempregados em 4%. Em 2006, as seis regiões conviveram com 2,245 milhões de pessoas à procura de trabalho, 87 mil a mais que a média de 2005.

Ávila, do Ipea, diz que a melhoria no mercado continuará: há 23 meses o emprego com carteira tem expansão superior aos sem-carteira. E, se a economia brasileira registrar um avanço superior a 4%, a criação de vagas poderá repetir o melhor resultado do governo Lula (criação de 600 mil vagas em 2004):

¿ Naquele ano, o PIB (Produto Interno Bruto, conjunto das riquezas geradas no país) ficou 4,9% maior. A geração de vagas em 2006, comparando dezembro contra o mesmo mês de 2005, foi de 520 mil.

Mesmo com as melhorias na qualidade do trabalho, a precariedade ainda prevalece. O trabalho doméstico, pouco formal e de salário baixo, foi a categoria que mais cresceu nesses quatro anos: 18,4%, abrangendo 8,2% dos mais de 20 milhões de ocupados.

Para Azeredo, do IBGE, diferentemente de 2003, quando outros membros da família entraram no mercado para compensar as perdas salariais que ultrapassavam 16%, no ano passado aconteceu o inverso:

¿ Como a renda média aumentou, mais famílias puderam contratar domésticos.

Ocupação cresce menos no Rio e em Recife

Entre as regiões, o comportamento foi diferenciado. Apesar de ainda registrar a menor taxa de desemprego entre as seis áreas metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, de 7,9%, o Rio de Janeiro ficou em penúltimo lugar em criação de vagas durante o governo Lula. O aumento total da ocupação de 2003 a 2006 foi de 5,1%, contra 8,6% da média das regiões.

O Rio de Janeiro só não foi pior que Recife, com uma alta de apenas 4,6% no mesmo período, mas que registra taxa de desocupação de 14,6%. No rendimento, o Rio se aproximou da média, com um avanço de 5,2% de 2003 a 2006.

DÉFICIT DA PREVIDÊNCIA ATINGE R$42 BILHÕES, na página 24

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