Título: Juros: Mantega e Meirelles afinam o discurso
Autor: Beck, Martha e Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 26/01/2007, Economia, p. 27

Presidente Lula manda os dois darem entrevista juntos para mostrar que não há conflitos na equipe econômica

DAVOS, Suíça. A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de desacelerar o ritmo de queda dos juros num momento em que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, cobrou publicamente do presidente do BC, Henrique Meirelles, que as taxas continuem caindo obrigou o presidente Lula a botar panos quentes na polêmica. Ao chegar em Davos para o Fórum Econômico Mundial, Lula mandou Mantega e Meirelles, que o acompanham na viagem e vieram no mesmo avião do presidente, darem uma entrevista juntos para dizer que não há conflito na equipe econômica.

Mantega: `taxa de crescimento não é mágica¿

Mantega ressaltou que a definição da Selic em 13% ao ano mostra que o Brasil está no caminho certo para atingir os objetivos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Ele adotou o discurso de que o país não pode crescer com inflação. O ministro disse ainda que não cobrou de Meirelles uma redução dos juros na divulgação do PAC, só apresentou uma projeção do mercado, pela qual os juros devem chegar, em média, a 10% ao ano até 2010.

¿ O importante é que os juros estão caindo e continuam caindo e acredito que vão continuar nos próximos meses ¿ disse Mantega.

Mantega previu que o crescimento este ano deve chegar a 4% ou 4,5% do PIB, mas ressaltou que a taxa ideal é 5%. Segundo ele, o PAC tem potencial para estimular a economia num percentual entre 0,5% e 1,5% do PIB, pois vai injetar investimentos ¿na veia¿. Sobre o governo ter afirmado em 2006 que a economia cresceria 5% já em 2007, disse:

¿ A taxa de crescimento não é uma coisa mágica que você decide e fala ¿vou fazer¿. Crescimento depende de uma série de variáveis.

Meirelles, menos confortável com a entrevista, afirmou que a relação com a Fazenda é ¿absolutamente cordial¿:

¿ A missão do BC, como disse muito bem o ministro, é cumprir a meta de inflação. O BC mira no centro da meta, e choques positivos ou negativos fazem com que a inflação orbite em torno do centro. Esta é a missão do BC que estamos cumprindo e vamos continuar cumprindo em total sintonia com o governo e com a Fazenda.

Ao ser perguntado sobre que discussões tem com Meirelles sobre juros, Mantega ressaltou que as visões são as mesmas: os juros precisam continuar caindo, mas de forma a cumprir a meta de inflação.

¿ O ministro da Fazenda não determina qual vai ser a taxa. O Copom tem autonomia. Nós podemos discutir cenários: a economia está crescendo mais, qual setor, vamos ter problema de inflação? Eu só não sugiro a ele qual vai ser a taxa de juros. É claro que ele sabe que eu gostaria de que fosse cada vez menor, assim como o presidente Lula. E ele (Meirelles) também. Só que tem que cumprir a meta ¿ disse Mantega.

Tarso diz que Lula respeita autonomia do BC

Já Meirelles acrescentou:

¿ O Copom não anuncia os próximos passos. Dissemos no comunicado que achamos que, com essa decisão, aumenta a probabilidade de flexibilização futura de política monetária. Estamos confiantes, confortáveis e certos de que o PAC vai trazer, de fato, um crescimento mais acelerado.

Mantega comentou o fato de outros emergentes, como China e Índia, estarem crescendo mais que o Brasil. A China cresceu 10,7% em 2006. Segundo Mantega, isso é bom, pois esses mercados vão comprar cada vez mais commodities e ajudar a balança comercial brasileira.

Já o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, disse ontem, em Brasília, que a decisão do Copom não afetará a credibilidade do PAC:

¿ O presidente Lula concedeu autonomia técnica ao BC e respeita essa autonomia.

COLABORARAM Chico de Gois e Cristiane Jungblut, de Brasília