Título: Elite empresarial rouba a agenda social no Fórum Mundial de Davos
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 26/01/2007, Economia, p. 30

Protestos de rua e Fórum em Porto Alegre provocaram as mudanças

DAVOS, Suíça. Há 14 anos, quem ousasse debater pobreza no Fórum Econômico Mundial de Davos corria o risco de ver a sala esvaziada. O Fórum era o que o nome sugere: essencialmente econômico. George Soros, o megainvestidor de Wall Street, desfilava como rei. Os negócios corriam soltos.

Vários protestos de rua, muito quebra-quebra e o surgimento do Fórum Social, em Porto Alegre, sacolejaram Davos para um caminho irreversível. A elite empresarial se deu conta de que não podia mais decidir os rumos econômicos do mundo sozinha. Hoje, o Fórum Econômico Mundial roubou, de certa forma, a agenda do movimento social.

Rodrigo Baggio, do Comitê para Democratização da Internet, organização não-governamental empenhada em levar computadores às favelas, festeja a mudança. Há cinco anos, ele é convidado para Davos:

¿ Isso é muito positivo. Um dos grandes temas deste ano é o efeito negativo da globalização. O fato de o fundador do Fórum ter criado uma fundação para apoiar empreendedores sociais, o fato de muitas mesas de discussão terem um representante do setor cidadão, mostra a evolução. Somos minoria, mas que tem voz e pode debater.

O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, que freqüenta Davos há 14 anos, viu enorme mudança:

¿ Há dez anos, não havia sensibilidade aqui para a abertura de mercado para a agricultura. Eu trouxe este tema durante dois anos aqui, e era bater num muro. Não tinha nem resposta. O tema entrou na agenda a ponto de haver mais uma reunião ministerial de comércio no sábado ¿ conta.

Para Furlan, foi o presidente Lula quem trouxe o Fórum Social para Davos, quando proferiu em 2003 o mesmo discurso que fez em Porto Alegre. E construiu a ponte entre o social com o econômico.