Título: Encontros serão pulverizados a partir de 2008
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 26/01/2007, Economia, p. 30

Fórum Social termina com carta de intenções e decisão de, ano que vem, espalhar protestos na semana de Davos

NAIRÓBI. O Fórum Social Mundial se despediu ontem de Nairóbi, no Quênia, com uma carta de intenções de ativistas e movimentos sociais pela construção de um novo mundo. E a decisão de, em 2008, retomar a estratégia que marcou seu início: o fórum será pulverizado em protestos durante a semana em que ocorrer o Fórum Econômico de Davos. O Conselho Internacional se reúne para tratar dos destinos do encontro, mas a decisão pela pulverização foi definida no fórum passado.

Segundo o empresário Oded Grajew, integrante do Conselho Internacional do Fórum Social, a escolha por eventos paralelos não enfraquece o evento:

¿ Nos fóruns mundiais, o limite tem sido 150 mil. A idéia é atrair mais organizações, ao espraiarmos o movimento. Em um espaço apenas, o número fica limitado. A idéia é fazer com que mais pessoas participem. Desde o começo, o desafio era expandir o processo. E é isso o que vai acontecer em 2008. Antes da existência do fórum, as entidades e ONGs nem se conheciam, nem se articulavam ¿ afirmou.

Nobel defende parceria

A queniana Wangari Mathai, ganhadora do prêmio Nobel em 2002, participou do encerramento e atribuiu ao Fórum Social o mérito de trazer para as discussões temas como a pobreza e as mudanças climáticas. Ela, que também foi convidada a participar do Fórum Econômico de Davos, defendeu uma parceria entre os dois encontros, em busca de um mundo melhor.

O documento final do Fórum Social, reunido em 27 páginas, traduz o plano de ação em torno das questões debatidas nos três dias em que os 46 mil inscritos se debruçaram sobre temas como saúde, educação, água, direitos humanos e dívidas.

A lista de ações segue a mesma linha das declarações lidas durante o Fórum dos Movimentos Sociais, evento paralelo ao FSM, que ocorreu anteontem: a maior parte se trata de organizar manifestos e pressionar organismos internacionais. Para Francisco Whitaker, um dos facilitadores do fórum, a divulgação da lista de ações é um passo adiante do que foi feito nos últimos encontros internacionais. Ele lembrou que as medidas, em Porto Alegre, foram divulgadas em um mural.

¿ Um documento final que tentasse incorporar tudo seria tão genérico que não agregaria ninguém. Essas informações vão permanecer, em um registro conjunto na internet. E as pessoas vão poder acessá-las e agir em função delas. O fórum não é uma entidade única e, por isso, não se posiciona. É um espaço. Tem muita gente que sonha que tenha um programa político, mas é um espaço aberto. Ninguém representa ninguém aqui ¿ afirmou Whitaker.

Ele defendeu a cobrança de taxa para o ingresso dos quenianos ¿ assunto que acabou dominando parte das discussões na reunião do Fórum de Movimentos Sociais, anteontem.

¿ Isso tem um custo. Gramamos no Brasil para pagar a dívida de 2005, em Porto Alegre. Ainda tem um restinho a pagar ¿ disse Whitaker.