Título: A equação PMDB
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 27/01/2007, O Globo, p. 2

À medida que se aproxima a reforma ministerial, maior é a inquietação no PMDB. Dois grupos concorrem, no Congresso, para ocupar os espaços destinados ao partido no governo. Um deles, formado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), já está no governo. Outro, tendo à frente o presidente do partido, Michel Temer (SP), quer entrar. Eles medem forças na eleição da Câmara.

O grupo mais antigo no apoio ao governo Lula tem simpatia pela candidatura à reeleição do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) na presidência da Câmara. Os neogovernistas fizeram um acordo com o PT e estão apoiando a candidatura do líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP). A oposição acompanha a evolução deste embate com interesse. Aposta que um dos dois grupos pode abandonar o governo Lula caso seu apetite não seja saciado.

Os neogovernistas conseguiram o apoio da maioria da bancada da Câmara para a candidatura petista, acusando o grupo de Renan Calheiros de ter ficado com todos os cargos do governo. Numa das reuniões da bancada, o deputado Marcelo Castro (PMDB-PI) foi escalado para ler a lista de nomeações feitas por Renan, Sarney e o deputado Jader Barbalho (PMDB-PA), e depois atacá-los. Os governistas do partido se ressentem dessa situação. Não aprovam o fato de o PT ter se aliado ao grupo do partido que fez oposição ao governo no primeiro mandato.

Os peemedebistas, como fizeram no governo Fernando Henrique, estão arrastando o governo Lula para sua luta interna. Além da disputa entre esses dois grupos no Congresso, o presidente ainda precisa administrar os governadores do partido. Os interesses não são os mesmos. Desde já, governistas e neogovernistas estão unidos contra indicações feitas por governadores para cargos no Ministério. Eles dizem que o presidente Lula pode fazer nomeações que não passem pelas bancadas na Câmara e no Senado, mas que isso não lhe renderá votos nem garantirá lealdade aos projetos de interesse do Executivo.

Acomodar no governo o PMDB, que tem as maiores bancadas no Senado e na Câmara, será o maior desafio do presidente Lula na reforma ministerial. O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, tem afirmado que a forma de organizar a base do governo mudou. No primeiro mandato, ao excluir o PMDB do Ministério, o presidente Lula fez a opção de negociar com grupos do partido. Agora, mesmo optando pelo entendimento institucional, o resultado pode ser idêntico caso uma das bandas se considere preterida na divisão do bolo.