Título: Candidatos enxugam gastos de campanha
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 27/01/2007, O País, p. 8

Com pouca publicidade e verba de viagem controlada, disputa é muito diferente da de 2005, patrocinada por Marcos Valério.

BRASÍLIA. Os sinais exteriores de riqueza que marcaram eleições passadas para a presidência da Câmara sumiram do Congresso. Temendo o fantasma do empresário mineiro Marcos Valério, que trabalhou ativamente nas campanhas da Casa de 2003 e 2005, os três candidatos ¿ Aldo Rebelo (PCdoB-SP), Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Gustavo Fruet (PSDB-PR) ¿ resolveram fazer uma campanha sóbria.

Diferente das outras eleições, em que a Câmara era inundada de cartazes e totens em tamanho natural dos candidatos, a ordem agora é diminuir gastos. O exemplo mais concreto disso foi a campanha de Chinaglia. Orçados inicialmente em R$200 mil, os custos já caíram à metade. Preocupado com a possibilidade do surgimento de um novo escândalo envolvendo o seu partido, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva alertou o PT para que não transformasse a disputa numa campanha muito cara e que levasse o partido a ser obrigado a dar explicações sobre os gastos.

No início do mês, Lula recebeu um relato preocupante de Aldo, presidente da Câmara. Ele disse que, se o candidato petista fizesse uma campanha cara, outros poderiam fazer o mesmo, o que só degradaria ainda mais a imagem da Casa. Segundo relatos, Lula demonstrou estar convencido dos argumentos.

Isso mudou o cenário. Segundo o coordenador da campanha de Chinaglia, Odair Cunha (PT-MG), a redução dos gastos foi motivada por uma mudança de estratégia. A idéia inicial era fazer muitas viagens aos estados para encontros com deputados. Ms segundo Odair, até agora, foram feitas duas viagens com jatinho, a Porto Alegre e Vitória.

Os três concorrentes usam a estrutura dos gabinetes.

No custo da campanha também estarão incluídos gastos com assessoria de imprensa, despesas como a impressão e distribuição de material, caso da carta com os compromissos do petista. Até o momento, Chinaglia arrecadou R$30 mil com doações de R$2 mil feitas por 15 deputados petistas. O PT se comprometeu a arcar com despesas que passem desse valor.

¿ Diminuímos os gastos com viagens. Também não vamos gastar com material de campanha. Isso elevaria muito o preço. A avaliação era que isso não era necessário para ganhar voto ¿ explicou Odair.

Os três candidatos usam a estrutura do gabinete. Isso inclui telefonemas, assessores e cota de passagens. Aldo usou na última sexta-feira uma passagem para participar de um debate em São Paulo. Fora isso, deve ter poucos custos. Até o momento foram gastos R$1.300 com adesivos, R$94 com papel para enviar carta e R$130 com despesas de Correios.

¿ O importante é o convencimento, e não as aparências. São apenas 513 eleitores. Esta é a campanha da casa da conversa ¿ observa Aldo.

Fruet: ¿O que houve no passado foi distorção¿

A mesma linha é adotada por Fruet. Suas despesas são bancadas pelo diretório do PSDB do Paraná. Segundo ele, até o momento, o maior gasto foi com o uso de um jatinho no trajeto São Paulo-João Pessoa-Recife, orçado em R$20 mil. Ele estima que também já gastou em hospedagem R$1 mil, além de R$2 mil para a confecção de 500 cartazes em preto e branco.

¿ Essa não é uma campanha de volume de propaganda. O importante é o debate público. O que houve no passado foi distorção ¿ observou Fruet.

Nesta campanha também sumiram da agenda as grandes festas e eventos. Em 2005, foram contratadas recepcionistas da empresária do ramo de entretenimento masculino Jeany Mary Corner. Um dos eventos que contou com a colaboração dela foi uma recepção da campanha do então candidato Virgílio Guimarães (PT-MG), que chegou a arrecadar com colegas cerca de R$250 mil.

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