Título: Irâ é alvo de Bush no Iraque
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Fonte: O Globo, 27/01/2007, O Mundo, p. 36

Presidente ordena a tropas dos EUA que atirem em agentes iranianos infiltrados no país

WASHINGTON

Opresidente dos Estados Unidos, George W. Bush, confirmou ontem que os soldados americanos receberam ordens para atacar e matar agentes iranianos infiltrados no Iraque. A decisão pode aumentar ainda mais a tensão na região, pois o país vizinho, além dos alegados financiamento e fornecimento de armas para milícias xiitas iraquianas, também tem fortes laços culturais, políticos e comerciais com o Iraque.

A decisão do governo americano foi conhecida com a publicação de uma reportagem sobre a questão no ¿Washington Post¿ de ontem. Horas mais tarde, Bush confirmou o teor do artigo e defendeu a nova postura.

¿ Faz sentido que, se alguém está tentando prejudicar nossas tropas ou nos impedir de alcançar nossos objetivos ou matar civis inocentes no Iraque, nós vamos detê-los ¿ disse Bush, quando perguntado sobre a nova ordem contra agentes iranianos no Iraque. ¿ É uma obrigação, todos nós devemos proteger nosso pessoal e atingir nossos objetivos.

O presidente americano, no entanto, afirmou que sua intenção não é ordenar uma invasão militar do Irã.

¿ Alguns estão tentando dizer, devido ao fato de estarmos colocando (estas ações) em prática, ajudando a nós mesmos no Iraque ao interromper influências externas que estão matando nossos soldados e ferindo o povo iraquiano, que queremos expandir isso além das nossas fronteiras ¿ disse Bush, que por ¿nossas fronteiras¿ se referia ao Estado iraquiano. ¿ Esta é uma estimativa que simplesmente não é verdadeira.

De acordo com o que o presidente americano disse ontem, ele acredita que pode resolver seus ¿problemas com o Irã diplomaticamente¿.

No entanto, a reportagem do ¿Washington Post¿ mostra que a mudança na estratégia dos EUA para lidar com o Irã é bem mais ampla do que apenas passar a atirar para matar em agentes infiltrados dentro do Iraque. Envolve também ações para isolar o país internacionalmente, impedindo ou atrapalhando o apoio que Teerã dá a grupos como o Hamas, nos territórios palestinos ocupados, e o Hezbollah, no Líbano.

Iranianos no Iraque são considerados hostis

Há cerca de um ano, os generais americanos receberam a ordem de ¿prender e soltar¿ agentes iranianos no Iraque. Os EUA estimam que há pelo menos 150 oficiais de inteligência iranianos no Iraque, além de integrantes da Guarda Revolucionária. Não há, porém, qualquer indício de que iranianos tenham atacado, diretamente, iraquianos ou americanos.

Dezenas deles foram detidos e vários deles, sem saber, tiveram amostras de DNA colhidas. Outros passaram por escaneadores de retina. Todos tiveram fotos tiradas e impressões digitais arquivadas. A intenção era intimidar os iranianos, mas, ao mesmo tempo, evitar uma escalada na tensão com Teerã. A tática, porém, foi considerada pouco eficiente e a Casa Branca decidiu endurecer a política com o Irã.

¿Não havia custos para os iranianos. Eles estão prejudicando nossa missão no Iraque, e nós estávamos nos esquivando em vez de lutar¿, disse, pedindo para não ter o nome citado, uma alta autoridade americana ao ¿Post¿.

Na nova tática para lidar com o Irã, o ¿prender e soltar¿ deu lugar a ¿matar ou capturar¿. A autorização foi dada pelo presidente Bush há cerca de seis meses.

O ex-comandante das tropas americanas no Iraque, George Casey, passou a considerar a Guarda Revolucionária do Irã, por exemplo, como uma ¿entidade hostil¿, o que permite que os soldados dos EUA atirem para matar se sentirem que é necessário. O mesmo vale para oficiais de inteligência que estejam trabalhando junto com milícias iraquianas. Civis e diplomatas iranianos não são considerados alvos. Não se tem notícia de que qualquer iraniano tenha sido morto por soldados americanos até agora.

Mais do que tentar atacar a presença iraniana no Iraque, a nova política pretende acabar com a influência iraniana de Cabul a Beirute. A ação é dividida entre estratégias distintas nas áreas militar, de inteligência, política e diplomática, visando a atacar interesses iranianos em todo o Oriente Médio. Operações serão ¿ ou já estão sendo ¿ executadas contra o libanês Hezbollah. O financiamento ao palestino Hamas e a grupos xiitas no oeste do Afeganistão também será atacado.

No nível diplomático internacional, os EUA tentarão aprovar mais sanções contra o Irã, acusando o país de ter mantido em seu território vários integrantes da rede al-Qaeda que fugiram do Afeganistão e entraram em seu território.

Ontem, o governo do Irã exigiu que o chefe da equipe de observadores da Agência Internacional de Energia Atômica em seu território deixe o país. A exigência ocorre um dia depois de Teerã ter banido de seu território 38 inspetores de países ocidentais.

Com Washington Post