Título: Somos todos responsáveis pelo que está acontecendo
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 28/01/2007, O País, p. 11

Governador diz ter vergonha dos indicadores sociais

Momentos depois de fazer um pronunciamento oficial no rádio e na TV, quinta-feira, em que denunciou ter herdado da gestão anterior um rombo de R$400 milhões nos cofres do estado, o governador Teotônio Vilela Filho (PSDB) recebeu O GLOBO em seu gabinete, no Palácio de Vidro, sede do governo. Em uma hora de conversa, se disse envergonhado, como representante da principal corrente política do estado, dos indicadores sociais de Alagoas. Afirmou ainda que conta com a ajuda do presidente Lula e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para reverter o quadro; mas poupou o seu antecessor, Ronaldo Lessa (PDT): ¿Somos todos responsáveis pelo que está acontecendo¿.

O senhor disse recentemente que o estado tem um rombo maior do que o metrô de São Paulo. Como encontrou o estado?

TEOTÔNIO VILELA: Eu me preparei muito para assumir este cargo, sabia que ia encontrar um quadro difícil, mas não esperava encontrar o estado em colapso financeiro, o que me fez tomar as decisões que tomei (suspensão de aumentos de servidores). Não cogitava isso de jeito nenhum, um rombo de R$400 milhões. Mas, se ferisse a Lei de Responsabilidade Fiscal, isolaria ainda mais o estado do governo federal.

Mas seus antecessores ainda são seus aliados. O que houve?

TEOTÔNIO: O cenário de dificuldade financeira do estado existe há muito tempo. Não o culpo (Ronaldo Lessa). Fizemos a campanha juntos, como parceiros. Mas não fui informado do que acontecia. Meu sentimento é de que ele próprio não tinha conhecimento de tudo, embora seja responsável também.

O senhor pediu ajuda ao presidente Lula?

TEOTÔNIO: Dependo muito do governo federal. Estive há dez dias reunido com Lula, junto com Renan (Calheiros, presidente do Senado), e ele ficou sensibilizado. Chamou seus principais ministros e disse para dar a Alagoas um tratamento diferenciado. Tanto que determinou que uma missão venha ao estado para se informar da situação. Tenho certeza de que ele não nos abandonará.

Por que o grupo político que está no poder há tanto tempo permitiu que o estado chegasse a este ponto de desigualdade?

TEOTÔNIO: A máquina administrativa tem realmente muitas distorções, mas não posso responder por isso. Acabo de assumir. O que eu posso dizer é que tenho vergonha dos nossos indicadores sociais, eles não poderiam estar assim tão dramáticos. Mas não quero apontar culpados, somos todos responsáveis pelo que está acontecendo.

O que vai mudar daqui para frente?

TEOTÔNIO: O primeiro passo é enxugar a máquina administrativa e priorizar as áreas de educação, por ser muito carente, turismo e agroindústria, que são as vocações do estado. Mas buscaremos recursos do governo federal e recursos a fundo perdido no exterior. Teremos o apoio do presidente Fernando Henrique e do ex-presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Enrique Iglesias, que estão sempre em Alagoas e já se comprometeram a atuar como embaixadores do estado. Uma idéia é trazer para cá projetos sociais famosos, como os de Bill Clinton (ex-presidente dos EUA) e Bill Gates (presidente da Microsoft).