Título: Preços de remédios têm aumentos de até 38%
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 28/01/2007, Economia, p. 32

Analgésicos e antitérmicos tiveram altas de 7,10% em 2006, mais que o triplo da inflação medida pela FGV.

Em tempos de inflação de Primeiro Mundo, os medicamentos estão sendo reajustados bem acima da média dos preços no país. Os vilões, os que mais pesam no bolso dos consumidores, são os remédios não controlados pelo governo. Em alguns casos, as altas chegam a 38% no varejo, revela pesquisa da Associação Brasileira do Comércio Farmacêutico (ABC Farma) feita a pedido do GLOBO.

Amplamente consumidos pela população, analgésicos e antitérmicos tiveram altas de 7,10% em 2006, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV). Pesou também no orçamento o aumento de 10,88% dos produtos homeopáticos. Segundo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC, da FGV), os remédios tiveram altas de 4,14%, o dobro dos 2,05% registrados pelo índice no país.

Remédios devem subir 2,5% em 2007, dizem executivos

Cerca de 95% dos remédios no Brasil têm o preço controlado pelo governo. Segundo a Câmara de Medicamentos (Cmed) ¿ formada pelos ministérios da Saúde, da Fazenda, do Desenvolvimento e da Justiça e pela Casa Civil ¿, a alta no ano passado para as 20 mil apresentações com preços controlados foi de até 5,5%. O reajuste vale até 31 de março deste ano, data-limite para sair a nova tabela. Os executivos do setor projetam aumento de 2,5% para este ano.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) também apurou forte alta nos preços do setor. O grupo registrou aumento de 4,60% em 2006, contra 3,14% do índice geral. Na opinião de André Braz, especialista em inflação da FGV, os reajustes ganham pesos diferentes, conforme faixa etária e renda:

¿ Os idosos estão sujeitos aos mesmos reajustes que o restante da população. A diferença é que, como os mais velhos fazem uso mais intenso de medicação, os gastos pesam mais em seu orçamento: o peso é de 4,48%, contra 2,20% do restante da população.

Reajuste dos remédios foi maior para os mais pobres

O aposentado Ilmo Engelhardt gasta, em média, R$300 por mês com medicamentos como xaropes e analgésicos. Ele acompanha os preços dos medicamentos. Em agosto de 2006, por exemplo, pagava R$7,45 pelo Buscopan. Há duas semanas, desembolsou R$8,40. Ou seja, mais 12,75%:

¿ Os preços sempre sobem. O meu orçamento sempre fica apertado. Além disso, ainda tem a variação entre as lojas.

Os medicamentos também tiveram peso maior para a camada menos favorecida da população. Segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC, do IBGE) os remédios subiram 4,77% no ano passado, contra 2,81% do índice geral. Com problemas de pressão, a aposentada Maria Ruth Guimarães, de 76 anos, consome diferentes tipos de medicamentos.

¿ Os preços nunca caem. Gasto mais de R$250 ao mês porque tenho vários problemas de saúde ¿ disse Maria Ruth.

O levantamento feito pela ABC Farma constatou variações de até 38,2% nos preços dos remédios no varejo carioca. É o caso da caixa com 20 comprimidos do antitérmico Dôrico, do Sanofi-Synthelabo, que passou de R$15,75, no fim de 2005, para R$21,78, em dezembro do ano passado. O preço do frasco de 10ml do expectorante Broncofenil, do laboratório Zurita, foi outra alta detectada pela pesquisa. O valor do produto subiu 37,65%, indo de R$15,75 para R$21,68 no período.

Para 2007, a expectativa é que os reajustes dos medicamentos corrigidos pelo governo fiquem abaixo das taxas de 2006. Esse cálculo será feito com base no IPCA acumulado entre março de 2006 e fevereiro de 2007, bem como em fatores de produtividade. Segundo executivos do setor, a alta dos remédios este ano deverá ficar na casa dos 2,5%.

O dólar, uma das variáveis utilizadas no cálculo de produtividade das empresas, beneficiou o consumidor no ano passado e continuará beneficiando em 2007, já que as matérias-primas usadas na fabricação dos remédios são importadas, apontou Ciro Mortella, presidente-executivo da Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Febrafarma).

Vendas no setor devem crescer até 5% este ano

Segundo Aurélio Villafranca Saez, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Medicamentos Isentos de Prescrição (Abimip), a alta nos preços dos remédios deverá ser de 2,5% este ano:

¿ Metade dos remédios sem prescrição médica têm reajustes livres. Esses tipos de medicamentos estão entre os mais consumidos no país.

Felipe Terrezo, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Rio (Sincofarma), disse que a margem de lucro das redes no varejo (sobre o preço dos laboratórios) não pode ser superior a 27,84%:

¿ Antes da desvalorização do dólar, o câmbio caro era a justificativa da indústria para pressionar os preços no setor. Com a recente queda da moeda americana, os aumentos dos remédios não serão tão altos e ficarão abaixo de 3%.

Para este ano, a indústria espera alta de até 5% nas vendas. Segundo Saez, da Abimip, o mercado é muito sensível à renda. No ano passado, o rendimento médio real dos trabalhadores aumentou 5,7%, segundo o IBGE.