Título: Longa trilha rumo à Casa Branca
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 28/01/2007, O Mundo, p. 37

Campanha para as eleições de 2008 é a mais precoce e imprevisível da história dos EUA

Janeiro de 2007 pode ser o marco inicial da mais longa campanha presidencial da história dos EUA. Dezessete candidatos já anunciaram intenção de disputar as primárias republicana e democrata. O início precoce da disputa tem motivação não apenas nos sinais de que o eleitorado quer renovação, como ficou claro nas eleições legislativas de novembro, mas sobretudo porque a campanha de 2008 promete ser também a mais dispendiosa.

¿ Será uma das mais caras e mais disputadas eleições da história ¿ diz Dorian Warren, da Universidade de Columbia. ¿ Para ter chance, cada candidato deve arrecadar US$100 milhões até as primárias começarem, em janeiro de 2008. Será uma eleição eletrizante, com candidatos capazes de quebrar paradigmas.

Entre os democratas, os senadores Barack Obama e Hillary Clinton e o governador do Novo México, Bill Richardson, são as maiores apostas. As primárias democratas contam com outros nomes, como o do ex-senador John Edwards, candidato a vice na última corrida presidencial. Do lado republicano, a lista é encabeçada por um herói do Vietnã, o senador John McCain, e pelo ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani.

Iraque, um dos temas centrais

Mas o perfil dos candidatos dos dois partidos tem algo que desafia seus eleitores. Hillary e Edwards votaram a favor da invasão do Iraque e terão que prestar contas por isto. Obama, único democrata que sempre se declarou contra a guerra, é tido como novato na política, estando apenas no seu segundo mandato como senador. Os republicanos mais fortes ¿ McCain e Giuliani ¿ precisam se distanciar de Bush. Giuliani é considerado progressista em excesso: se pronunciou a favor dos direitos dos gays e do aborto. McCain declarou apoio a uma reforma liberalizante da lei de imigração, enquanto conservadores de seu partido só pensam em cerrar mais as fronteiras.

Para os democratas, propostas para uma retirada honrosa do Iraque serão plataforma preciosa para ganhar votos da maioria descontente com a estratégia militar da Casa Branca.

¿ As pesquisas revelam popularidade tão baixa de Bush que democratas têm mais de 50% de chance de vencer as próximas eleições ¿ diz Steven Brams, professor de ciência política da Universidade de Nova York.

As primárias, no entanto, são bem diferentes das eleições:

¿ Os candidatos têm que fazer uma dança difícil. Nas primárias os republicanos parecem progressistas e os democratas, conservadores. Depois, nas eleições gerais, todos voltam ao que eram. A questão será esse espaço de manobra, saber o quão progressista um republicano pode se tornar e o quão conservador um democrata pode ser nas primárias. E tudo depende, claro, das mudanças da opinião pública ¿ comenta Warren.

A mais longa campanha começa também como a mais imprevisível.

¿ Hillary é candidata do sistema. É verdade que seria novidade uma mulher comandando a Casa Branca, mas seus adversários são muito mais desafiadores. Obama tem plataforma mais ousada, foi contra a guerra e representa a novidade de um presidente negro, descendente de muçulmano. Richardson pode ser o primeiro hispânico presidente, mas será convincente para a maioria na política sobre imigração? Do outro lado, dois heróis, um do Vietnã e outro do 11 de Setembro. O problema com Giuliani é saber se os republicanos vão apoiar um candidato pró-gay, que já foi casado três vezes. Quanto a Mc Cain, suas posições sobre a guerra erodiram possibilidades de apoio entre os independentes ou indecisos. Por isto, é muito difícil saber quem tem mais chances ¿ diz Lincoln Mitchel, da Universidade de Columbia.

Outro problema é o calendário eleitoral. Pequenos estados costumam ter mais peso porque suas primárias estão entre as primeiras. Mas a expectativa com a eleição de 2008 é tanta que o calendário deve ser modificado. Quatro grandes estados ¿ Califórnia, Flórida, Illinois e Nova Jersey ¿ podem antecipar para fevereiro as consultas, o que alteraria a estratégia dos candidatos. New Hampshire, que tradicionalmente abre o calendário, pode antecipar para 2007 o pleito. Um dos principais consultores do comitê central do Partido Democrata, Tad Devine, declarou que as mudanças podem fazer as primárias durarem meses.

Giuliani no caminho de Hillary Clinton

Alguns dos candidatos mais cotados têm problemas em seus estados. Segundo o ¿Washington Post¿, a senadora de Nova York apareceu em recente pesquisa como opção de 41% dos democratas, mais que o dobro dos 17% de Obama, segundo colocado. Outra pesquisa, da Universidade Quinnipiac, revela que se as eleições fossem hoje Hillary perderia no estado de Nova Jersey, vizinho ao de Nova York, para seu maior adversário na região, Giuliani, por 48% a 41%.