Título: O risco é do PT
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 29/01/2007, O Globo, p. 2

O governo Lula tem mais sorte do que juízo. As eleições para a presidência da Câmara, na quinta-feira, a despeito da divisão da base parlamentar aliada, não representam risco político para o governo. A oposição, dividida, não tem chance de eleger um dos seus, o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR). Mas o resultado eleitoral será determinante para o PT e seus planos hegemônicos.

O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), e o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), entram na semana decisiva costurando alianças para o segundo turno. As enquetes publicadas ontem pelos jornais ¿Folha de São Paulo¿ e ¿Estado de São Paulo¿ indicam que nenhum dos dois governistas conseguirá ter 50% mais um dos votos (257 votos se os 513 deputados votarem). Os resultados mostram que Chinaglia deve ter uma votação maior que a de Rebelo no primeiro turno, mas isso não lhe assegura a vitória. Em 2005, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) foi o mais votado no primeiro turno, mas quem levou foi Severino Cavalcanti (PP-PE).

Quem vai decidir estas eleições são os deputados do PSDB e do PPS. No primeiro turno, a maioria deles deve votar em Fruet. No segundo, quem levar a esses votos será eleito presidente da Câmara pelos próximos dois anos. Os aliados de Chinaglia contam com o apoio dos tucanos para vencer. Garantem que há um acordo pelo qual os tucanos, sob a liderança do governador José Serra, votarão pela regra da proporcionalidade no segundo turno. Os aliados de Rebelo não desconhecem essas tratativas, mas avaliam que os tucanos não terão condições políticas de arcar publicamente com a responsabilidade de eleger um petista para a presidência da Câmara. Argumentam ainda, que diante da urna secreta prevalecerá entre os tucanos o desejo de impor uma derrota ao seu rival.

Para o PT, a eleição é decisiva. Se vencer, o partido estará retomando uma parcela importante do poder que detinha no início do governo Lula. Os petistas não só passarão a determinar a agenda da Câmara, como terão poder de fogo para resistir a uma maior distribuição do poder no governo Lula. Seus aliados, sobretudo a ala do PMDB que apóia Chinaglia, também se fortalecerão às vésperas da reforma ministerial. A eleição de Chinaglia consolidará um bloco de poder na Câmara que terá como centro a dobradinha PT-PMDB.

Bandeira

A esquerda do PT aderiu à tática da oposição. Vai usar o discurso da ética para combater o domínio do Campo Majoritário no partido. Sua prioridade agora é abrir processo no Conselho de Ética e aprovar a expulsão do ex-secretário do Ministério do Trabalho Osvaldo Bargas, e do ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso. Ambos participaram da compra do dossiê Vedoin. São os petistas rumo ao terceiro congresso.