Título: Pesquisa: após PAC, 40% das empresas e entidades apostam em investimentos
Autor: Louven, Mariza e D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 29/01/2007, Economia, p. 16

Pacote, porém, deixou 60% dos entrevistados em dúvida ou pessimistas

RIO e SÃO PAULO. O empresariado está dividido quanto à capacidade do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) alavancar novos investimentos. Na consulta feita pelo GLOBO a 20 entidades empresariais e grandes companhias, o otimismo prevaleceu, mas o pessimismo e a dúvida foram significativos. Entre os entrevistados, 40% (que representam mais de 41 mil empresas) opinaram que o programa do governo estimulará novos projetos. Já os demais se dividiram entre os que disseram que não ou ficaram em cima do muro, cada um com 30%.

Entre os mais otimistas estão as operadoras de terminais portuários. O setor calcula que o PAC vai gerar R$3 bilhões em novos empreendimentos. Já a siderurgia, responsável por cerca de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de riquezas produzidas pelo país), manterá a sua programação de aplicar US$15 bilhões entre 2006 a 2010.

¿ Acredito que haverá algum estímulo ao investimento privado naqueles setores mais diretamente beneficiados pelo programa, como o de construção civil ¿ opina Edgard Pereira, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Talvez por isso, a construtora Odebrecht esteja entre as mais otimistas. O setor da construção pesada ¿ cuja fatia no PIB é em torno de 0,5% ¿ prevê que o investimento de R$7 bilhões na área de transporte, programado no PAC para 2007, poderá representar 500 mil novos empregos, de acordo com Luiz Fernando Santos Reis, presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon).

¿ Agora é rezar para sair da teoria e ir para a prática ¿ acrescenta Reis.

Para pessimistas, custo dos investimentos no país é alto

Os representantes do setor de energia, porém, têm mais dúvidas do que certezas. Claudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil, diz que a medida do PAC que pode ter um impacto mais positivo nos investimentos é a que trata de licenças ambientais. A Associação Brasileira de Concessionária de Rodovias (ABCR) também informa que o setor está em compasso de espera: a única previsão que mantém é a de investimentos de R$10 bilhões nos próximos dez anos, conforme prevêem os contratos de concessão vigentes.

¿ Os setores de infra-estrutura e energia serão beneficiados por investimentos pesados do governo. Para atender a este aumento de demanda, as empresas ou vão usar a sua capacidade instalada ociosa ou aumentar a produção ¿ opina o professor de Planejamento Tributário e Governança Corporativa do Ibmec, Gilberto Braga.

Maior concessionária de rodovias do país, a Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR) também não definiu os investimentos para 2007 e aguarda mais detalhes para fazer uma avaliação profunda do PAC.

No grupo dos pessimistas, o destaque é a Olsen, fabricante de equipamentos médicos e odontológicos de alta tecnologia. De acordo com seu presidente, Cesar Augusto Olsen, ¿investir hoje no Brasil é um negócio complexo¿. A empresa, que ainda não tem fábrica no exterior, planeja aplicar US$250 mil este ano num escritório nos Estados Unidos, com vistas à futura construção de uma linha de montagem lá.

¿ O dólar baixo e os custos internos altos inviabilizam novos investimentos aqui. Manteremos um nível de investimento baixo no Brasil, porque o mercado não está crescendo e o custo do investimento é alto ¿ diz Olsen.

As Empresas Randon, conglomerado do setor de autopeças com fábricas em vários países, oito mil empregados e faturamento anual de US$3 bilhões, também não mudarão seu plano de investimentos por causa do PAC. A previsão é aplicar R$800 milhões no Rio Grande do Sul em quatro anos. Mas seu diretor Corporativo e de Operações, Erino Tonon, destaca:

¿ Sem o PAC, talvez nem esta programação pudesse ser cumprida.