Título: Cartas na mesa
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 30/01/2007, O Globo, p. 2

Os governadores colocaram as cartas na mesa e o próximo lance será dado pelo governo Lula. O relacionamento entre o presidente Lula e os governadores, nos próximos quatro anos, vai depender muito do desfecho da reunião de 6 de março. Os governadores querem mais recursos à custa da União, que terá de avaliar se ainda pode perder receitas, além da desoneração fiscal do PAC.

Anfitrião das duas reuniões de governadores, José Roberto Arruda (DF) diz que não há intenção de iniciar uma queda-de-braço com o governo federal. Mas isso pode acabar ocorrendo, caso o presidente Lula e os governadores não cheguem a um acordo. Os governadores querem receber parte da receita da CPMF, ampliar a parcela de estados e municípios na Cide, criar a Desvinculação de Receitas do Estado (DRE), alterar a regra de distribuição do Fundeb, mais recursos no Fundo de Compensação criado pela Lei Kandir e uma renegociação da dívida com a União. Ao todo, são 14 reivindicações entregues ontem ao ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro.

A primeira reação do Palácio do Planalto foi de frieza. Um auxiliar do governo ironizou dizendo que os governadores querem aproveitar o PAC para resolver todos os seus problemas financeiros. O diálogo não será tranqüilo. A votação do PAC no Congresso pode acabar evoluindo para uma luta política entre os estados e a União. Para os governadores, o PAC é uma oportunidade para negociar, endurecer e arrancar concessões do governo federal. Por isso, enquanto o governo Lula não der sua resposta, os governadores vão segurar o verbo.

¿ Neste momento, nós estamos tentando construir uma agenda comum entre estados e União. Não estamos numa queda-de-braço nem queremos que a votação do PAC vire uma guerra. Na reunião do dia 6 é preciso avançar ¿ diz José Roberto Arruda.

Diante da pauta apresentada ontem pelos governadores, a defesa da inclusão de obras de interesse regional no PAC foi só um aperitivo. Os estados querem mais, sobretudo porque há entre os governadores dois declarados candidatos à Presidência da República nas eleições de 2010, os tucanos José Serra e Aécio Neves. Para não encerrar o diálogo de saída, o presidente Lula, que andou pedindo mais ousadia à equipe econômica, terá de pedir agora maior flexibilidade.