Título: Mantega: não precisamos crescer 10%
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 30/01/2007, Economia, p. 21
Em Londres, ministro diz que pacote não jogará responsabilidade fiscal no lixo
LONDRES. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem em Londres que o Brasil não precisa nem reúne condições de atingir uma taxa de crescimento econômico semelhante à de Índia e China. A economia chinesa cresceu 10,7% no ano passado. Mantega, que iniciou visita de três dias à capital britânica, usou uma metáfora automobilística para reforçar sua opinião de que a média de 5% ao ano visada pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é adequada e realista para o país.
¿ Não precisamos crescer a 10% ao ano nem temos condições para isso. Só países com mercados internos pouco desenvolvidos e num patamar menos avançado de industrialização conseguem crescer a taxas tão elevadas. Nosso caso é de um carro andando a 80 quilômetros por hora e queremos aumentar a velocidade para 110 quilômetros. Isso nós podemos fazer com segurança ¿¿ afirmou Mantega.
O ministro apresentou ontem o PAC a uma platéia de investidores estrangeiros na sede do Banco Central Inglês. Mantega disse a jornalistas brasileiros que não está preocupado com uma possível crise energética provocada por um crescimento econômico superior a 4%.
Segundo o ministro, as chuvas de janeiro, que abarrotaram os reservatórios das mais importantes hidrelétricas do país, e a construção de mais duas usinas no Rio Madeira, que, de acordo com Mantega, receberão licença ambiental em fevereiro, vão gerar energia correspondente a metade de Itaipu.
¿ O país pode crescer mais de 4%, não vai faltar energia na medida em que colocamos em prática as medidas anunciadas para o setor elétrico.
Na apresentação aos investidores, Mantega reforçou que o Brasil nunca viveu um ambiente tão favorável para o crescimento econômico:
¿ Mostramos aos investidores que existe uma sustentabilidade fiscal nas medidas apresentadas. Elas não vão desequilibrar as contas públicas, aumentar a dívida e jogar na lata do lixo um bem como a responsabilidade fiscal.
Para Mantega, governadores fizeram críticas leves ao PAC
Perguntado sobre a força política que o governo teria para aprovar as medidas do PAC no Congresso, Mantega disse confiar no bom senso dos parlamentares.
¿ Lula acabou de ser reeleito com expressiva maioria e está conseguindo construir uma coligação que, a meu ver, é mais forte que sustentação do governo no primeiro mandato. E eu duvido que o Congresso recuse medidas de desoneração tributária porque não há ninguém no Brasil que se diga satisfeito com a carga tributária ¿ brincou.
O ministro também mostrou-se otimista em relação a um maior apoio dos governadores ao PAC. Disse que as críticas ao plano feitas por alguns deles foram uma questão de dever do ofício:
¿ Foram críticas leves e não voltadas para a essência do programa.
À tarde, Mantega encontrou-se com o ministro britânico das Finanças, Gordon Brown, provável substituto de Tony Blair como premiê do Reino Unido.