Título: O custo do etanol
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Fonte: O Globo, 30/01/2007, Economia, p. 22

Para quem esperava ação em relação ao aquecimento global e à política de energia, o discurso do Estado da Nação foi decepcionante. Houve até a expectativa de um momento Nixon-vai-à-China, com o presidente Bush se transformando em conservacionista. Nada aconteceu. Bush admitiu que a mudança climática é um problema, mas, se você piscou, não viu isso. Ele disse algo vago sobre economia de combustível, mas os dados da Casa Branca mostram que de onde menos se espera é que não vem nada mesmo.

A única coisa real foi o apelo de Bush por um grande aumento da oferta de ¿combustíveis alternativos¿. Isso significa, em grande parte, usar o etanol no lugar da gasolina. Infelizmente, é uma péssima idéia.

Há um lugar para o etanol no futuro energético do mundo ¿ mas esse lugar é nos trópicos. O Brasil conseguiu substituir boa parte de seu consumo de gasolina pelo etanol. Mas o etanol brasileiro vem da cana-de-açúcar.

Nos EUA, o etanol vem principalmente do milho, uma matéria-prima menos adequada. Segundo pesquisadores da Universidade de Minnesota, mesmo que toda a colheita de milho americana virasse etanol, isso significaria só 12% de nosso consumo de gasolina.

Mas um pouco não ajuda? Bem, esse pouco teria um custo muito alto frente à alternativa óbvia ¿ conservação de energia. Segundo o Escritório de Orçamento do Congresso, reduzir o consumo de gasolina em 10% pelo aumento dos padrões de economia de combustível custaria, a produtores e consumidores, US$6,3 bilhões anuais. Atingir o mesmo percentual por meio da alta da produção de etanol custaria pelo menos US$10 bilhões por ano, com base nos atuais subsídios do setor.

Subsidiar o etanol beneficia dois grupos bem organizados: os plantadores de milho e os produtores de álcool (especialmente a gigante Archer Daniels Midland). É uma má política com apoio dos dois partidos ¿ Republicano e Democrata. Já os conservacionistas não têm o mesmo peso político.

O que fazer para promover uma boa política energética? Educação é o primeiro passo, e Al Gore merece os elogios. Mas há um abismo entre o que precisa ser feito e o que é politicamente possível fazer.

PAUL KRUGMAN é colunista do jornal ¿The New York Times¿