Título: Conselho investiga Ministério Público do AM
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 31/01/2007, O País, p. 3

Gestão de procurador-geral afastado sob acusação de mandar matar colega sofrerá devassa

BRASÍLIA. O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) abriu uma auditoria para investigar irregularidades no Ministério Público do Amazonas. O foco principal são atos da gestão do procurador-geral de Justiça do Amazonas, Vicente Cruz, atualmente afastado do cargo por suspeita de mandar matar um de seus colegas, o promotor Mauro Campbell. Uma investigação policial impediu que esse crime ocorresse. Segundo Janice Ascari e Hugo Cavalcanti, integrantes do CNMP que estiveram durante todo este mês em Manaus, há indícios de mau uso do dinheiro público na administração de Cruz. Entre os problemas previamente apontados pelos conselheiros está o pagamento de diárias de até R$1.200 a servidores em viagens a trabalho.

Ontem, Ascari e Cavalcanti apresentaram ao CNMP uma proposta para realizar uma profunda investigação nas finanças do Ministério Público do Amazonas nos últimos dez anos. A idéia foi aprovada por unanimidade. Em relação às diárias, além do valor discrepante em comparação ao restante do funcionalismo público, existe suspeita de que era feito o pagamento excessivo de diárias.

Outro benefício sob suspeita apontado pelo relatório do conselho é a gratificação por produtividade. Ela representava um bônus no contracheque dos funcionários de 80% a 300% do valor do salário. Depois que Cruz foi afastado do cargo, no dia 16, o promotor Evandro Paes de Farias assumiu o posto e, segundo ele mesmo, já tomou ¿medidas moralizadoras¿. No caso dessa gratificação, os percentuais foram reduzidos de 80% a 120%. Os critérios para receber o benefício, que antes eram obscuros, também teriam sido disciplinados.

¿ Os funcionários iam lá chorar para ele (Vicente Cruz) e ele queria agradar a todos. É uma pessoa que administra mais com o coração ¿ disse Farias, que recebeu duas diárias para participar ontem da reunião do CNMP em Brasília.

Também será apurada a suposta existência de uma conta bancária em nome do Ministério Público do Amazonas que seria movimentada secretamente por Vicente Cruz. Nessa conta teriam sido depositados R$2 milhões. Existem indícios de que o dinheiro foi utilizado na compra superfaturada de uma casa no município de Apuí (AM).

Vicente Cruz também teria encomendado morte de promotora

O CNMP também recebeu a informação de que, no ano passado, Vicente Cruz teria separado a quantia de R$20 mil para mandar matar a promotora Silva Nobre de Lima Cabral, que havia feito denúncias contra ele no conselho. O plano para assassinar Campbell, que não chegou a ser posto em prática, é alvo de uma investigação conduzida pelo Ministério Público do Amazonas. Cruz e Campbell disputavam a eleição para procurador-geral de Justiça do estado, marcada para 15 de fevereiro. Como está afastado, Cruz não pode mais ser candidato. Campbell continua na disputa.

¿ Eu jamais imaginei que o doutor Vicente seria capaz disso. É uma pessoa extremamente dócil, religioso, de ir à missa e comungar ¿ relatou Farias. (Carolina Brígido)