Título: Reta final da disputa na Câmara acirra guerra por cargos na Mesa
Autor: Camarotti, Gerson e Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 31/01/2007, O País, p. 4

Acordos saem do controle com a formação de blocos para ganhar espaço

BRASÍLIA. Na reta final, a campanha pela presidência da Câmara transformou-se num vale-tudo, com acirrada disputa pelos votos dos deputados. Em meio às campanhas dos três candidatos ¿ Aldo Rebelo (PCdoB-SP), Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Gustavo Fruet (PSDB-PR) ¿ há disputas paralelas por cargos na Mesa e pelas presidências das comissões temáticas. Ontem, a guerra na Câmara saiu do controle com as negociações em torno da formação de blocos partidários. No início da noite, o PDT decidiu, por 17 votos a seis, apoiar a criação de um bloco com o PCdoB e o PSB, o que levou o partido a apoiar a reeleição de Aldo.

Com as projeções de que a eleição será definida no segundo turno, o PSDB, rachado, virou o principal alvo da disputa. Nas últimas horas, os dois candidatos governistas, Aldo e Chinaglia, iniciaram uma forte ofensiva para conseguir os 58 votos da bancada tucana no segundo turno. Depois de uma crise, o PSDB fechou no primeiro turno com Fruet, candidato da terceira via. O PT está reforçando o acordo inicial com o deputado Nárcio Rodrigues (PSDB-MG), de entregar a primeira vice-presidência para os tucanos. Assim, tenta obter a maioria dos votos tucanos.

¿ Jamais vou hostilizar o PSDB. É a jóia da coroa do meu segundo turno. Eu sou (José) Serra e Aécio (Neves) desde criancinha ¿ brincava ontem Chinaglia.

PDT praticamente definiu 2º turno

A decisão do PDT de apoiar Aldo praticamente assegura a disputa entre ele e Chinaglia num segundo turno. O líder do PDT, Miro Teixeira (RJ), disse que a aliança dos três partidos foi movida pelo convívio durante as eleições do ano passado. Mas a reunião do PDT foi tensa. Miro, contra a composição, falou a favor de Chinaglia.

¿ Manifestei meu voto por Chinaglia, mas seguirei a decisão do partido, como sempre fiz.

¿ O bloco é um sonho antigo de reunir comunistas, trabalhistas e socialistas, forças de esquerda mais antigas que o PT. Queremos ter uma opinião política forte, influir nos rumos do governo ¿ disse o deputado Renildo Calheiros (PCdoB-PE).

No início da noite, PMDB e PP ameaçavam formar um bloco para reagir à iniciativa do PDT e barrar suas pretensões na divisão dos cargos.

¿ Se PSB e PCdoB formam bloco para ter espaço, vamos usar o mesmo método ¿ ameaçou o líder do PP, deputado Mário Negromonte (BA).

O deputado eleito Ciro Gomes (PSB-CE) classificou de ¿marcha da insensatez¿ a disputa entre dois governistas:

¿ Estou preocupado porque, a despeito da sua grave importância, a Mesa da Câmara não é a única questão em discussão. Se olharmos a esperança do povo brasileiro, é a qualidade do governo Lula que dependerá de bom cimento na heterogênea coalizão política que tentamos montar. É nessa perspectiva que acho uma marcha da insensatez duas forças aliadas, que acabaram de sair de traumas gravíssimos diante da opinião pública, não encontrarem fórmula, ainda que complexa, de sairmos todos unidos, coesionando a base do governo Lula ¿ defendeu Ciro.

¿ Se tivesse havido um fórum de partidos, bancadas, eu teria concordado (em desistir). Como posso discutir não ser candidato se o noticiário me coloca como favorito? Mas tenho o espírito aberto. Se houver um fórum que conclua que o candidato será A ou B, um fórum que represente os partidos, eu concordo ¿ disse Chinaglia.

COLABOROU Catarina Alencastro