Título: Viúva de milionário é presa
Autor:
Fonte: O Globo, 31/01/2007, Rio, p. 10

Polícia indicia ex-cabeleireira por participação no assassinato do ganhador da Mega-Sena

A ex-cabeleireira Adriana Almeida foi indiciada ontem por participação no assassinato do marido, o milionário da Mega-Sena Renné Sena, morto a tiros no último dia 7, em frente a um bar, em Rio Bonito. Adriana foi presa à tarde, quando já estava pronta para deixar o Hotel Tio Sam, em Camboinhas, na Região Oceânica de Niterói. Ela estava com uma advogada. Um mandado de prisão temporária de 30 dias, prorrogáveis por mais 30, foi expedido na última quinta-feira pela 2ª Vara Criminal de Rio Bonito, com base em escutas telefônicas e na quebra do sigilo bancário da acusada. No entanto, os policiais da 119ª DP (Rio Bonito), com o apoio de agentes da Delegacia de Homicídios (DH) e do Departamento de Policia do Interior (DPI), só a encontraram ontem.

A Justiça também determinou o bloqueio da conta conjunta que a viúva mantinha com Renné e de outra que ela tem em seu nome. Outras pessoas também tiveram a prisão decretada, mas os nomes não foram divulgados nem pela Justiça nem pela polícia. O chefe do DPI, delegado Rafick Louzada, disse que as informações, se divulgadas, poderiam atrapalhar as investigações e o cumprimento dos mandados.

O delegado titular da 119ª DP, Ademir Oliveira, que está à frente das investigações, passou mal pela manhã, quando se reunia com a cúpula da Polícia Civil. Com fortes sinais de cansaço, ele foi levado para o Hospital Souza Aguiar, onde foi diagnosticado um quadro de estafa. Com isso, coube a Louzada e ao chefe da Polícia Civil, delegado Gilberto Ribeiro, falar sobre os motivos da prisão da viúva.

- A prisão é resultado de uma investigação criteriosa, que não ainda não se esgotou e que necessita de diligências complementares - disse Gilberto.

Delegacia fechada para evitar invasão

Segundo ele, Adriana aparentemente estava escondida no hotel. Gilberto e Louzada disseram ainda que os policiais já haviam cumprido, anteontem, um mandado de busca na mansão de Adriana, em Rio Bonito, mas ela não havia sido encontrada.

Há informações de que ela circulou por diversos locais até ontem. Primeiro, hospedou-se no Sheraton da Barra da Tijuca. De lá, foi, com o amante Robson de Andrade, para o motel Maxim, no mesmo bairro. No domingo, esteve na fazenda, mas foi para o hotel no começo da tarde. Ontem, ela foi presa quando já se preparava para deixar o local. A ex-cabeleireira foi levada ao Instituto Médico-Legal, onde fez exame de corpo de delito. Aos prantos, ela voltou a afirmar que nada tinha a ver com a morte de Renné:

- Sou inocente. É uma covardia o que estão fazendo comigo.

Do IML, ela foi para a Polinter, na Praça Mauá, e dali para a carceragem feminina da 72ª DP (São Gonçalo). Foi preciso fechar a delegacia porque moradores ameaçaram invadir o prédio. Adriana foi levada ainda para depor na Delegacia de Homicídios, no Centro do Rio.

A situação da viúva se complicou depois que Robson, motorista de van, contradisse vários pontos do depoimento que ela havia prestado à polícia. Os investigadores também acreditam que um ex-segurança, que também seria amante de Adriana, possa estar envolvido no crime.

Anteontem, o advogado da viúva, Alexandre Dumans, entregou ao delegado Ademir Oliveira uma petição em que retifica partes do depoimento de Adriana, no qual pelo menos quatro mentiras foram descobertas após as declarações de Robson.

De acordo com especialistas em direito de família, caso Adriana seja condenada pela suposta co-participação no assassinato, ela pode ser excluída da herança de Renné - que ganhou R$52 milhões na Mega-Sena em julho de 2005.

Sua situação, no entanto, pode se complicar ainda mais. Ela voltará à Delegacia de Homicídios até a semana que vem, para ser interrogada sobre a morte do PM Davi Vilhena. Além dela, pelo menos três homens que já prestaram serviços de segurança para Renné serão interrogados. O delegado titular da DH, Roberto Cardoso, preferiu não dar detalhes da investigação. Ele admitiu, no entanto, que interrogará a viúva sobre alguns pontos pendentes no inquérito que apura o crime.

A morte do PM aconteceu em setembro do ano passado, na Ilha do Governador, dois meses após a polícia receber uma informação de que Renné seria seqüestrado. Ao saber do plano, o milionário ficou desconfiado e demitiu os três seguranças. A polícia investiga a informação de que Adriana teria sido contrária à demissão de um dos seguranças - o mesmo que seria seu amante.

O PM havia recebido um telefonema de um outro segurança. De acordo com a polícia, durante a ligação, Vilhena recebeu um pedido para sair mais cedo de casa, a fim de substituir um colega no serviço de segurança do milionário, em Rio Bonito. Por causa disso, Davi Vilhena saiu de casa às 4h50m e não às 6h30m, como fazia habitualmente, e foi morto a tiros na Ilha do Governador, bairro onde morava. Os bandidos, que interceptaram seu carro, levaram o celular do PM.

UMA FORTUNA EM JOGO

CRIME - Ganhador de R$52 milhões na mega-sena, o ex-lavrador Renné Senna, de 54 anos, foi assassinado no dia 7 passado, com quatro tiros de pistola, na porta de um bar na Estrada de Lavras, no bairro de Lavras, em Rio Bonito, onde morava há seis meses. Dois homens encapuzados chegaram ao local numa motocicleta e um deles fez os disparos, que atingiram Renné na nuca e no rosto.

VIÚVA - Ex-cabeleireira, Adriana Almeida, de 29 anos, era casada com Renné Senna há um ano.

DISPUTA - As investigações da 119ªDP (Rio Bonito) apontaram para uma execução, já que os bandidos conheciam a rotina da vítima. Surgiram indícios de uma disputa pelo dinheiro de Renné. Segundo a família da vítima, Adriana afastou os 11 irmãos do ex-lavrador, que seriam beneficiados no primeiro testamento registrado pelo milionário. Num segundo testamento, as únicas beneficiadas seriam a viúva e a filha de Renné, Renata Senna. Viúva e filha passaram a trocar acusações. Segundo Adriana, a paternidade de Renata seria contestada pelo próprio Renné e ele mesmo teria pedido a um advogado que providenciasse um exame de DNA.

DEPOIMENTO - No dia 12 passado, Adriana foi depor na delegacia e afirmou ser inocente. Na saída, tumulto: a multidão que se aglomerava em frente à 119ª DP tentou linchar Adriana e só foi contida depois que policiais fizeram disparos para o alto.

AMANTE - Apontado como suspeito do crime e um dos amantes de Adriana, o motorista de van Robson de Andrade Oliveira prestou depoimento e complicou a situação da viúva. Segundo a polícia, foi confirmado que ela mentiu em seu depoimento. Anteontem, o advogado de Adriana enviou documento à polícia pedindo retificações no depoimento, depois de admitir que sua cliente havia mentido.

PARTICIPARAM DA COBERTURA: Gabriela Moreira, Letícia Vieira, Marcelo Gomes, Marco Antônio Martins, Marcos Nunes (do Extra) e Natanael Damasceno.

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