Título: Equador: manifestantes invadem Congresso
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 31/01/2007, O Mundo, p. 27

QUITO. Centenas de partidários do presidente do Equador, o nacionalista de esquerda Rafael Correa, invadiram ontem o Congresso de Quito, obrigando deputados a deixarem o prédio, "em plena sessão parlamentar", segundo relatou o presidente da Câmara, Jorge Cevallos, do Prian, principal partido de oposição ao governo. Do lado de fora, os choques entre os manifestantes e a polícia resultaram em três pessoas feridas - nenhuma em estado grave, segundo a Cruz Vermelha equatoriana - incluindo uma fotógrafa da agência de notícias espanhola EFE, Cecilia Prueba, que foi atingida no rosto por um objeto lançado pela multidão.

As manifestações obrigaram um reforço do policiamento em Quito, estenderam-se durante todo o dia em várias partes da cidade, e ocorrem num momento de extrema tensão política no Equador, apenas duas semanas depois da posse de Rafael Correa, um grande aliado do presidente venezuelano, Hugo Chávez, que possui polêmicos projetos reformistas - incluindo reforma constitucional, revisão da dívida externa e dos contratos das empresas petrolíferas em seu país.

Correa discorda do presidente do Congresso equatoriano e quer convocar, mesmo sem a aprovação do Legislativo, um referendo de consulta popular para a instauração de uma Assembléia Constituinte. Só que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do país obriga que o plebiscito seja aprovado pelo Congresso - daí o impasse e a razão dos protestos em Quito.

Com pedras e pedaços de madeira, os manifestantes pró-Aliança País (o grupo político de Correa) querem que o Congresso aprove a realização do referendo, que o governo já marcou para o dia 18 de março. A idéia de Correa é que a assembléia de plenos poderes, com representantes das camadas populares, elabore o texto de uma nova Constituição para o Equador. O país é considerado um dos politicamente mais instáveis da América Latina, que teve nada menos do que oito presidentes na última década, cujo Congresso é acusado pelo novo governo de "corrupção" e de "promover o atraso".

Para reprimir a invasão dos manifestantes, a polícia usou gás lacrimogêneo, segundo relatou um fotógrafo que acompanhava Prueba. Mesmo assim, centenas de pessoas acabaram entrando no prédio, jogando pedras e garrafas em cima dos policiais. Outras continuaram as manifestações do lado de fora.

- Tivemos que sair de repente, emergencialmente. É inacreditável o tumulto que o próprio governo está causando - disse o deputado Federico Pérez, do Prian, dono da maior bancada na Câmara.

A porta-voz do Palácio Carondelet, sede da Presidência equatoriana, Monica Chuji, disse que "o governo sempre defenderá o direito dos cidadãos de protestar".

- Mas condenamos qualquer tipo de violência - salientou.