Título: Um vetor apontado para os EUA
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 31/01/2007, O Mundo, p. 27

Niemeyer revela maquete de monumento encomendado por Chávez

Da gestação de seus ideais revolucionários (livrar toda a América do jugo espanhol) à realização efetiva do seu projeto histórico, Simón Bolívar precisou de mais de uma década. Para projetar um monumento em sua homenagem (a pedido do presidente venezuelano, Hugo Chávez), Oscar Niemeyer precisou de apenas um fim de semana.

- Ele me pediu informalmente quando veio me visitar aqui em casa. Eu estava sem nada para fazer, então rabisquei um pouco no papel e quando vi o monumento estava ali, pronto - explica o arquiteto, entusiasta do líder venezuelano, fazendo pouco da maquete de papelão sobre mesa de trabalho na sala de seu apartamento em Ipanema, onde recupera-se à base de fisioterapia de um tombo que levou meses atrás.

Difícil, porém, desdenhar, ainda que em esforço de fairplay, da estrutura de 100 metros em balanço livre a ser erguida em Caracas e destinada a bater o recorde mundial do concreto armado.

- Olha, está apontado para os Estados Unidos - arrisca Niemeyer, parecendo experimentar um prazer supremo em imaginar as conseqüências, ainda que simbólicas, de se apontarem objetos para Washington.

Ele nega, contudo, tratar-se de um lançador de mísseis, preferindo apenas metaforizar a postura de confronto assumida por Chávez em relação aos primos do norte e ao presidente Bush.

- Não, uma arma não. É um movimento. Um vetor. A arquitetura tem sempre que surpreender, criar curiosidade, senão não adianta. Ainda mais quando se trata de exprimir a coisa toda do Chávez, que é revolucionária, de mudança de ventos, audaciosa, corajosa.

O projeto, que prevê, ao pé da estrutura cercada por um espelho d'água, um museu dedicado a Bolívar, já foi enviado para o presidente venezuelano no fim de semana passado.

Agora, resta a el comandante dar a palavra final e a ordem de execução. Da obra, esclareça-se...