Título: Câmara renovada dá maioria a Lula
Autor: Franco, Ilimar e Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 01/02/2007, O País, p. 3

Oficialmente, presidente terá apoio de pelo menos 355 dos 513 parlamentares

BRASÍLIA. Caso a promessa de fidelidade dos aliados se cumpra, o novo Congresso será majoritariamente pró-Lula. Considerando apenas o número de deputados que integram a coalizão de 11 partidos que apóiam o governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá 355 dos 513 parlamentares (69%) ao seu lado, o suficiente para aprovar inclusive alterações na Constituição. Os governistas já saíram em maior número das eleições, mas a base cresceu no troca-troca partidário entre eleição e posse, tendo como pano de fundo a expectativa de benesses.

No Senado, o governo espera o apoio de 48 senadores, mas sabe que isso não acontecerá. O PDT, por exemplo, tem quatro parlamentares, mas dois são da oposição. No PMDB, os 20 senadores não aderiram integralmente ao Palácio. O governo sabe que política não se traduz em números e que enfrentará defecções, mas vislumbra um início de mandato tranqüilo.

Para obter a maioria ao menos na Câmara, o Planalto prometeu dividir o governo com os aliados, dando-lhes espaço no Ministério ou em estatais. Além de aliados históricos, como PCdoB e PSB, os petistas atraíram PMDB, PV e PDT, que na legislatura encerrada ontem se mantiveram na oposição. No caso do PMDB, parte foi governista e outra parte, oposição, o que deve se repetir, embora o partido tenha assegurado a Lula que 80% marcharão com o Planalto.

As novas adesões, no entanto, não foram suficientes para afastar o Planalto de antigas companhias que ficaram marcadas pelo envolvimento com o mensalão, como PR (fusão do PL com o Prona), PP e PTB. Como no passado, essas siglas estão atraindo neogovernistas e aumentaram a bancada, oficialmente, de 88 para 94. Só o PR filiou seis novos deputados. A coalizão também abriu espaço para outros nanicos, como o PSC, com oito parlamentares, e PRB, com um.

Dos deputados eleitos, 120 são empresários

Com o vento soprando em sua direção, o governo assiste à oposição ficar ainda mais sufocada. Antes mesmo de a legislatura começar, o PFL perdeu três cadeiras, o PSDB, duas, e o PPS, três. Os tucanos devem ficar ainda mais reduzidos porque a bancada eleita pelo Ceará, de cinco deputados, deve acompanhar o ex-governador Lúcio Alcântara, desafeto de Tasso Jereissati, e migrar para um partido da base governista. O PPS também encolherá. Com a saída do governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, seus seguidores devem ir para o PR.

A Câmara que assume hoje foi renovada em 47%: 243 novos deputados tomarão posse, alguns já velhos conhecidos de seus eleitores por terem ocupado cargos públicos. Novos na política, só 43, a maioria representando evangélicos ou oriundos de rádio e televisão.

Em termos de escolaridade, 413 dos 513 parlamentares têm curso superior, e 493 têm mais de 31 anos. No quesito profissão, a categoria que lidera a composição da nova Câmara é a dos profissionais liberais: 265. A segunda maior representação profissional é a dos empresários, que elegeram 120 parlamentares. Os assalariados são representados por 88 deputados.

A nova legislatura não foge à regra e também terá um grupo considerável de deputados que precisam se explicar à Justiça. No caso dos novos, ganharam foro privilegiado e seus processos serão remetidos automaticamente ao Supremo Tribunal Federal. Apenas na bancada do Rio, um terço dos eleitos responde a processos.

COLABOROU Luiza Damé

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