Título: Câmara em ritmo de bloco
Autor: Franco, Ilimar e Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 01/02/2007, O País, p. 3

Partidos se associam para disputar hoje a presidência e os cargos da Mesa Diretora

Aeleição para a presidência da Câmara e para outros dez cargos da Mesa Diretora será disputada hoje por três blocos partidários, formados às pressas com o objetivo de garantir aos grandes e médios partidos o controle dos principais postos de comando. A criação dos blocos, oficializada ontem, não tem relação direta com a eleição de presidente, mas ampliou a possibilidade de segundo turno. Arlindo Chinaglia (PT- SP) deve sair na frente, mas, na provável disputa com o atual presidente, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), terá condições de igualdade no segundo turno. Os aliados dos dois diziam ontem que a eleição será decidida pelo PSDB, que no primeiro turno estará com o candidato da terceira via, o tucano Gustavo Fruet (PR).

Foram criados ontem o blocão (PMDB-PT-PP-PR-PTB-PSC-PTC-PTdoB) de 273 deputados; o bloquinho (PSB-PDT-PCdoB-PMN-PAN) de 68 deputados; e o bloco da oposição (PSDB-PFL-PPS), com 153 deputados. O bloco de oposição e o blocão serão dissolvidos logo depois da eleição da Mesa Diretora e da escolha dos presidentes das comissões permanentes da Casa. O único que vai continuar a existir é o bloquinho, que pretende ser um pólo de centro-esquerda e atuar como uma bancada unida, nas relações com o governo Lula e na interação com a sociedade.

Os blocos não têm relação direta com a eleição para a presidência da Câmara porque os partidos estão didividos entre as três candidaturas. No blocão, por exemplo, o PMDB tem 90 deputados. Mas os aliados de Chinaglia afirmam que ele terá entre 60 e 70 votos da legenda. No PP, os aliados de Aldo contabilizam de 15 a 24 dos 41 votos. O caso do bloco da oposição também revela essa dissociação. O PFL, com bancada de 62 deputados, apóia Aldo e deve dar-lhe no mínimo 55 votos. O tucano Fruet (PR) teria apenas sete votos dos companheiros de bloco.

Os comandos das três campanhas cantavam vitória ontem. Os tucanos garantiam a possibilidade concreta de Fruet ir ao segundo turno. Contam até com o governador José Serra, que no início avalizou apoio a Chinaglia.

¿ O Serra acha que o Fruet não pode fazer feio e pediu ao Kassab (prefeito de São Paulo) para conseguir votos no PFL ¿ disse o deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP).

O deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS), especialista em conta de votos na Casa, dizia que o petista podia ganhar as eleições no primeiro turno. Usava como argumento o fato de o blocão ter 273 deputados. Diante do argumento de que 30 deputados do PMDB e 15 do PP não votavam em Chinaglia, ele contestava:

¿ Traições vão ocorrer em todo lado.

Apenas PV, PSOL e PRB permanecem isolados

Diante dos revezes, no PSDB e no PDT, a candidatura de Chinaglia precisava ontem vender a imagem de que venceria no primeiro turno. Mas o deputado Ricardo Barros (PP-PR), aliado de Chinaglia, tinha uma avaliação diferente e falava na existência de 120 indecisos:

¿ Entendemos que há hoje 120 deputados com os quais vale a pena trabalhar. Se conseguirmos 30% destes, vencemos no primeiro turno. Depois que eles criaram o bloco, tivemos que reagir e o clima agora é mais favorável a nós.

Os números da campanha de Aldo são bem diferentes: seus aliados trabalham com 51 votos indecisos e com 84 deputados fechados com Fruet. Por essa contabilidade, nem Aldo nem Chinaglia teriam ontem mais de 200 votos, sendo que o comunista teria uma vantagem de dez votos.

¿ A situação melhora a cada dia para o Aldo. A eleição vai para o segundo turno e vamos ganhar ¿ disse Renildo Calheiros (PCdoB-PE).

Ao contrário de outras eleições, as campanhas desta vez estão menos coloridas. Nada de cartazes ou moças contratadas para pedir votos. Apenas a campanha de Fruet fez faixas com sua foto e conta com a ajuda de poucos militantes do PSDB na caça a votos pelos corredores. Chinaglia distribuiu um programa de governo com sua foto na capa. Aldo não produziu material.

A guerra dos blocos foi deflagrada com o objetivo de garantir os cargos da Mesa. Apenas três legendas (PV, PSOL e PRB) e 17 deputados não integram blocos, formados por 14 partidos.

¿ Não queremos pautar nossa atuação pela disputa de cargos, mas sim pela atuação política, não essa disputa tacanha pelo poder interno ¿ criticou Chico Alencar (PSOL-RJ).

O PT cedeu para o PSDB a primeira vice-presidência da Câmara. O líder do PT, Henrique Fontana (RS), afirmou que a decisão foi um sinal de respeito à proporcionalidade e ao resultado das urnas. O líder do PSDB, deputado Antonio Pannunzio (SP), negou acordo com o PT para as escolhas dos cargos da Mesa.

¿ Foi uma atitude inteligente do PT.

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