Título: PSDB ajuda a vitória do PT
Autor: Franco, Ilimar e Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 02/02/2007, O País, p. 3

Chinaglia vence Aldo para a presidência da Câmara no 2º turno por apenas 18 votos

O líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), foi eleito ontem presidente da Câmara em votação apertada, com apenas cinco votos a mais do que o mínimo exigido. Chinaglia teve 261 votos na votação em segundo turno, contra 243 do atual presidente da Casa, Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Foram seis votos em branco. O painel eletrônico registrou o resultado da segunda votação às 20h43m, uma hora depois da primeira, na qual 236 votos foram para Chinaglia, 175 para Rebelo e 98 para Gustavo Fruet (PSDB-PR). Na segunda votação, os votos tucanos ajudaram a eleger Chinaglia.

- Quero uma gestão democrática. Vamos recuperar a autoridade da Câmara - disse Chinaglia, antes do resultado.

Mais tarde, eleito, afirmou:

- As eleições acabaram. Vamos conduzir a Câmara respeitando cada deputado e deputada e a legitimidade de cada mandato.

Anunciada a vitória de Chinaglia, ele foi cercado pelos aliados - entre eles, vários investigados pelos escândalos no governo Lula, como José Mentor (PT-SP), ou por escândalos anteriores, como Paulo Maluf (PP-SP), que deu um beijo no presidente eleito da Câmara.

Os petistas, que diziam que Chinaglia venceria no primeiro turno, reagiram com surpresa à primeira votação. O segundo turno, em urna eletrônica, começou imediatamente, e a vitória foi sacramentada quando o líder do PSDB, Antonio Carlos Pannunzio (SP), anunciou que liberaria a bancada. O líder da Minoria, José Carlos Aleluia (PFL-BA), e o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), tentaram convencê-lo a apoiar Aldo.

- Considerando que não conseguimos levar nosso candidato ao segundo turno e que os outros candidatos são da base do governo, o PSDB libera a sua bancada - disse Pannunzio.

Essa posição era esperada pelos petistas, que diziam ter com os tucanos acordo informal pelo qual eles ficariam com a primeira vice-presidência em troca da liberação da bancada. Pannunzio negou o acordo e disse que tomou esta decisão para garantir a unidade da bancada.

- Quando Jutahy anunciou o apoio ao Chinaglia, o partido se dividiu. A candidatura Fruet nos uniu. Não vamos nos dividir novamente.

Para Gabeira e Aleluia, os tucanos cometeram um erro. E disseram isso a Pannunzio.

- Vocês não compreendem. O Arlindo é candidato da máquina do governo e do PT. Aldo renasceu pela instituição - criticou Gabeira.

Mais tarde, petistas alardeavam o acordo entre PT e PSDB. João Paulo Cunha afirmou:

- O PSDB foi fiel a nós. Vamos cumprir o acordo em São Paulo. Vamos votar neles para presidente da Assembléia e ficaremos com a primeira-secretaria.

O tucano Paulo Renato afirmou que, apesar do resultado, não havia aliança:

- A votação do segundo turno mostra que a maioria do PSDB nunca esteve com Chinaglia.

"Lutar contra a máquina não é brincadeira"

Fruet não queria se pronunciar. Antes conversou com Pannunzio e depois com Raul Jungmann (PPS-PE), que havia anunciado o apoio do Grupo dos 30 a Aldo. Só aí declarou que votaria em Aldo no segundo turno:

- Decidi apoiar Aldo, porque assumiu compromissos - disse, citando a defesa da transparência e da correção do salário pela inflação.

Sobre a derrota, Fruet disse:

- Me sinto em paz. Lutar contra a máquina (governista) não é brincadeira. Minha obrigação não é com a vitória, mas com a ação. Fiz minha parte, a Câmara fez sua opção.

A votação do primeiro turno começou por volta de 16h30m e durou cerca de três horas. Embora tenham sido disponibilizadas oito urnas eletrônicas, alguns deputados chegavam a demorar dez minutos, provocando longas filas.

O presidente da sessão, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), anunciou o resultado do primeiro turno - com 512 votantes - às 19h42m. Chinaglia e seus aliados não esconderam a decepção. Os aliados de Aldo gritavam seu nome. Os tucanos começaram a gritar: "Fruet" e só depois ouviram-se os gritos de "Arlindo".

Ao discursar, Aldo voltou a falar da pluralidade da composição da Câmara. Criticou o PT e reafirmou sua lealdade ao presidente Lula.

Último a discursar, Chinaglia dirigiu-se aos eleitores em tom corporativista. Por cinco vezes afirmou que não aceitará ataques e críticas injustas. Deixou claro que não dará apoio a iniciativas que visem punir deputados que renunciaram ao mandato para não serem punidos. Disse que a crise é uma página virada:

- Não podemos permitir que qualquer deputado que não tem nada a ver com a crise seja caracterizado como um outro deputado por meio do seu partido. A conseqüência disso pode ser perigosa, seria não nos relacionarmos institucionalmente com aqueles que ganharam a legitimidade com os votos.