Título: De pavio curto, Chinaglia representa volta por cima do Campo Majoritário
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 02/02/2007, O País, p. 4

Candidatura foi apoiada por Dirceu, João Paulo Cunha e Marta Suplicy

BRASÍLIA. O grupo político que comandou a Câmara nos dois primeiros anos do governo Lula volta ao poder com a eleição do líder do governo, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), para a presidência da Casa. Sua vitória também representa o fortalecimento do PT paulista, que desde a derrota eleitoral na prefeitura de São Paulo, em 2004, e a queda do chefe da Casa Civil, José Dirceu, no rastro do escândalo do mensalão, no ano seguinte, estava alijado do poder.

Sua candidatura foi apoiada com entusiasmo por José Dirceu e seu grupo, justamente o mais atingido com o escândalo do mensalão. Entre esses destaca-se o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), um dos estrategistas da campanha de Chinaglia. A vitória do petista também se deve à atuação da bancada fiel à ex-prefeita Marta Suplicy. É ligado a Marta um dos principais conselheiros de Chinaglia e coordenador de sua campanha, o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).

O novo presidente da Câmara é centralizador e tem pavio curto, segundo seus próprios colegas de bancada. Durante o período em que foi líder do governo, esvaziou o trabalho dos vice-líderes e evitou delegar-lhes tarefas. Quando contrariado, ele não hesita em partir para o confronto físico contra quem julga ser seu oponente. No ano passado, trocou soco e empurrões com o deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE), que era quarto secretário e foi eleito ontem para a segunda vice-presidência, justamente como fruto de acordo com Chinaglia.

Petista se retirou da disputa em 2005, a pedido de Lula

O novo presidente da Câmara integra a tendência Movimento PT, de centro, que forma com a Articulação, o chamado Campo Majoritário, o grupo que comanda o PT desde 1995. Filiado ao PT desde 1980, foi presidente do diretório regional de São Paulo e secretário-geral da executiva nacional petista. No início do primeiro mandato do presidente Lula, foi cotado para assumir o Ministério da Saúde. Na gestão de Marta na Prefeitura de São Paulo (2001-2002) foi secretário de Governo.

O petista já tinha tentado assumir a presidência da Câmara em 2005, depois da renúncia do ex-presidente Severino Cavalcanti (PP-PE). Mas, diante do temor de uma derrota para o candidato da oposição, o ex-deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL), retirou-se da disputa em favor da candidatura de Aldo Rebelo (PCdoB-SP).

Naquela ocasião, Lula pediu que ele desistisse de concorrer, em favor de Aldo. Nesta eleição, o presidente, que revelou sua simpatia pelo comunista, não teve condições políticas de pedir o mesmo pela segunda vez. Chinaglia se impôs quando celebrou um acordo com o PMDB, pelo qual, daqui a dois anos, os petistas darão apoio a uma candidatura do partido na Câmara.

Chinaglia consolidou ainda os apoios dos líderes do PP, do PTB e do PR e dividiu a oposição, isolando o PFL no apoio a Aldo Rebelo e atraindo uma parcela dos votos do PSDB.

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Bloco de Esquerda vai ser mantido até 2010

Aliança entre os partidos de Ciro, Aldo e Miro busca voz no Congresso e influência no governo

BRASÍLIA. O Bloco de Esquerda, criado por PSB-PDT-PCdoB-PMN às vésperas das eleições para a presidência da Câmara, veio para ficar, garantem seus líderes. É nesse bloco que Ciro Gomes (PSB-CE), Aldo Rebelo (PCdoB-SP), Miro Teixeira (PDT-RJ) e outros nomes de expressão da Câmara vão atuar e montar suas estratégias. O lançamento de um candidato à Presidência em 2010 é uma das metas do grupo, com o PSB à frente.

Desde o primeiro mandato do presidente Lula, socialistas e comunistas tentam formar um bloco com o objetivo de ampliar a capacidade de intervenção política na Câmara e aumentar o poder de influência no governo, em contraponto à força do PT. Isso não era possível porque o PDT estava na oposição.

O PSB sempre quis ser uma alternativa de esquerda ao PT. Nas eleições de 2002, chegou a lançar a candidatura à Presidência do ex-governador Anthony Garotinho. Agora, se prepara para disputar nas eleições de 2010, quando o presidente Lula não será candidato e o PT terá o desgaste de oito anos de governo.

O PSB, que elegeu os governadores do Ceará, Cid Gomes, de Pernambuco, Eduardo Campos, e do Rio Grande do Norte, Vilma Faria, tem em seus quadros ainda o deputado Ciro Gomes, que já disputou as eleições presidenciais em 1998 e 2002.

- Estamos apenas ensaiando. Somos diferentes e, por isso, precisamos de tolerância e paciência neste começo. O bloco pode ser o embrião de uma candidatura como a de Ciro Gomes - diz o vice-líder do governo, Beto Albuquerque (PSB-RS).

- Estamos criando um novo pólo de ação política. Há dois anos estamos tentando formar esse bloco. Um bloco com 68 deputados tem mais poder para negociar no Congresso e no governo - disse o ex-líder do PCdoB, Renildo Calheiros (PE).

Desde a redemocratização, o PSB e o PCdoB se comportam como sublegenda do PT. A criação desse bloco é uma tentativa de independência de ambos. Ele terá líderes pelo sistema de rodízio e tempo proporcional ao tamanho de cada partido. O líder do PSB, Márcio França (SP), exercerá a liderança por 118 dias, e o líder do PDT, Miro Teixeira (RJ), por 105 dias.(I.F)