Título: Ata mostra BC cauteloso com economia aquecida
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 02/02/2007, Economia, p. 28

Banco Central não reduziu mais os juros por causa da expansão da demanda e dos gastos públicos maiores

BRASÍLIA. Mesmo reduzindo sua expectativa de inflação para 2007 e 2008, o Banco Central (BC) justificou a desaceleração no corte da taxa básica de juros com o argumento de que a atividade econômica dá sinais de aquecimento e o quadro fiscal é expansionista, sem que ainda esteja claro o efeito da política monetária adotada desde setembro de 2005. A ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, mostra que o BC já incorporou às suas análises a probabilidade de o superávit primário recuar de 4,25% para 3,75% do Produto Interno Bruto (PIB), com o desconto do Projeto-Piloto de Investimentos (PPI).

Mesmo sem fazer juízo de valor sobre os gastos públicos, o BC deu, na ata de ontem, mais espaço ao aspecto fiscal do que de costume. Ainda assim, avaliam os especialistas, a autoridade monetária deixou implícito que, mesmo em ritmo mais lento, poderá prosseguir com a redução da Taxa Selic, que passou de 13,25% para 13% ao ano na semana passada.

Previsão de alta dos preços administrados recua para 4,5%

Esta foi a primeira ata após o anúncio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), fortemente apoiado nos gastos públicos e cujo objetivo é levar a uma expansão de 5% ao ano. Nos cinco encontros anteriores, o Copom optara por cortes de 0,5 ponto.

O BC explicou, na ata, que, "em relação à política fiscal, as projeções levam em conta o cumprimento da meta de superávit primário de 4,25% do PIB em 2007 e em 2008, ajustada pela possibilidade de que esse percentual seja reduzido em até 0,5 ponto percentual em virtude da implementação do PPI".

A economista-chefe do ABN-Amro, Zeina Latif, explica que o uso do PPI é mais um impulso à economia e, por isso, o BC se mostra mais cauteloso, para não deixar a inflação avançar:

- O BC prevê inflação mais baixa e, ao mesmo tempo, vê riscos sobre a atividade. Isso não é contraditório.

Na ata, o BC reduziu a projeção de alta dos preços administrados de 4,8% para 4,5% em 2007. Sobre a variação dos preços em geral, diz apenas que também puxou para baixo seus cálculos, que continuam apontando inflação abaixo do centro da meta (4,5%). O BC também estima que os preços da gasolina e do botijão de gás ficarão inalterados em 2007, enquanto as tarifas de eletricidade e telefonia fixa devem subir 4,6% e 3,9%, respectivamente. A ata indica ainda riscos menores de aumento nos preços internacionais do petróleo.

A questão fiscal foi citada quando o BC listou os fatores de pressão sobre a atividade econômica, que podem vir a acelerar demais o PIB, gerando inflação caso o setor produtivo não tenha capacidade de atender ao aumento da demanda. Para o BC, a alta do nível de emprego e de renda pode contribuir para uma aceleração forte da economia, bem como da concessão de crédito.

Analistas vêem continuidade no corte de juros em 2007

"A esses fatores devem ser acrescidos os efeitos da expansão das transferências governamentais e de outros impulsos fiscais ocorridos em 2006 e esperados para este ano. Dessa forma, os efeitos defasados dos cortes de juros sobre uma demanda agregada que já cresce a taxas robustas se somarão a outros fatores, que continuarão contribuindo de maneira importante para a sua expansão", diz a ata, que prevê expansão de 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2007.

Como nos últimos meses, a ata usou a expressão "parcimônia" para caracterizar o movimento do BC.

- O Copom deu sinais de que continua a perspectiva de mais reduções (dos juros) no futuro - afirmou o economista-chefe do banco Itaú, Tomás Málaga, para quem a Selic encerra 2007 a 11,5% ao ano.

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