Título: Políticos traídos pela língua
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Fonte: O Globo, 02/02/2007, O Mundo, p. 33

Gafe racista no 1º dia de campanha

WASHINGTON. O primeiro dia da campanha do pré-candidato democrata Joseph Biden entrou para a história, e não pela conquista de votos. Biden passou o dia tentando explicar uma frase considerada racista sobre seu concorrente, Barack Obama, que seria o "primeiro afro-americano importante que é articulado e brilhante e limpo e bonito".

Biden disse que ligou para o senador Obama para se explicar, mas disse que a frase foi "tirada do contexto".

Obama declarou não ter se sentido ofendido pela frase, considerando-a só "infeliz". Mais tarde, talvez pressionado por sua base eleitoral, ele voltou ao tema para dizer que a declaração de Biden era "historicamente incorreta", citando ex-pré-candidatos negros como Jesse Jackson e Al Sharpton "que ninguém diria que não são bem articulados".

Sharpton confirmou que Biden ligou para ele para se explicar:

- Disse a ele que tomo banho todos os dias.

Biden não explicou aos jornalistas o que quis dizer com "limpo", só fazendo isso em entrevista ao humorista Jon Stewart:

- O que causou problemas foi usar a palavra limpo. Deveria ter dito novo. Quis dizer que ele tem idéias novas.

Chirac na contramão da pressão sobre o Irã

PARIS. O presidente da França, Jacques Chirac, protagonizou ontem um curioso jogo de desmentidos e supostos mal-entendidos. Numa entrevista aos jornais "The New York Times", "International Herald Tribune" e "Le Nouvel Observateur", ele afirmou que a possibilidade de o Irã ter uma bomba atômica não era tão perigosa, indo na contramão da posição de seus aliados.

"Contra quem lançaria essa bomba? Contra Israel? Não conseguiria avançar 200 metros antes de Teerã ser arrasada", disse Chirac. "Ter uma ou mesmo duas bombas não é muito perigoso. Perigoso é a proliferação", afirmou.

Ontem, ele se viu obrigado a convocar de novo jornalistas e pediu que as declarações fossem retiradas, mas os três divulgaram o recuo do presidente. O governo respondeu criticando a mídia: "Trata-se uma interpretação de frases que tem por fim provocar uma polêmica vergonhosa".

A Presidência francesa declarou ainda que "não pode aceitar a perspectiva de um Irã com arma nuclear". Já a Casa Branca, que pressiona Teerã devido a suas ambições nucleares, minimizou as declarações de Chirac:

- Acho que ele voltou atrás. Nossa posição sobre o Irã é clara: não deve ter nenhuma arma nuclear. Não é apenas a posição dos EUA, mas também de seus aliados, entre eles a França. Chirac afirmou mais tarde que pensava falar em off (quando a fonte não é revelada).