Título: Lula diz que disputa na base não deixa feridas
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 03/02/2007, O País, p. 8

Acho que se houver alguma rusga, ela será consertada pela nossa tradição de convivência democrática¿, diz presidente

Soraya Aggege

CAMPINAS (SP) e BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem não temer fissuras em sua base no Congresso, por causa da disputa entre dois aliados ¿ Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Aldo Rebelo (PCdoB-SP)¿ pela presidência da Câmara. Lula foi enfático ao comentar as conseqüências da vitória de Chinaglia, no segundo turno:

¿ (A base de apoio) volta, volta (recomposta)! Não tem feridas. Acho que se houver alguma rusga, ela será consertada pela nossa tradição de convivência democrática ¿ disse Lula, após inaugurar uma estação de tratamento em Campinas.

Para o presidente, a disputa entre PT e PCdoB pela presidência da Câmara foi tática e ficou sob controle. Lembrou de sua relação histórica com o PCdoB de Aldo e com Chinaglia, ex-líder de seu governo.

¿ O presidente da República não pode ter candidato a presidente da Câmara. Todos sabem da minha relação histórica com o PCdoB, e sobretudo da minha relação pessoal com o companheiro Aldo. Assim como sabem da minha relação histórica com o Arlindo. Então, embora parecesse que o governo estava numa situação delicada, na verdade tinha dois candidatos. Foi o que aconteceu. Se quiséssemos apenas teorizar, iríamos ver a somatória da votação e perceberíamos a quantidade potencial de votos que temos dentro da Câmara ¿ disse.

Lula disse esperar que os projetos pessoais dos deputados não prejudiquem as relações no Congresso:

¿ A tradição entre PT e PCdoB é histórica: uma relação de 30 anos, que não entrará em crise por causa de uma disputa. O que está em jogo, não é a sobrevivência de um partido político ou de uma pessoa, mas o destino do país.

Lula afirmou ainda não ter pressa de fazer a reforma ministerial

¿ Não tenho pressa, não tive pressa e não tenho pressa, porque ganhamos a eleição. O time foi vitorioso e eu estou tranqüilo na montagem do governo ¿ disse Lula, que à noite participou em São Paulo de serviço religioso pelo Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, sendo recepcionado pelo presidente do Rabinato da congregação paulista, Henry Sobel.

Base procura mostrar união

Na base aliada o lema ontem era um: a disputa interna acabou e agora é hora de garantir a votação de projetos de interesse do país e do governo, como os projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). No entanto, a ala governista derrotada não esconde que aguarda sinais do Planalto.

¿ Vamos dar tempo ao tempo. Depende da atitude do presidente da República, do governo, se ele quer trabalhar só com os que ganharam ¿ disse Ciro Nogueira (PP-PI), que fez campanha para Aldo.

O líder do PSB, Márcio França (SP), disse que a eleição zerou os problemas entre as duas alas governistas, mas reforçou o discurso de que os derrotados gostariam de ser contemplados, por exemplo com a manutenção da liderança do governo. Um dos nomes aventados é o do ex-líder do PTB, José Múcio Monteiro (PE). Mas o PSB pretende manter no cargo o gaúcho Beto Albuquerque.

O próprio Chinaglia descartou problemas maiores na relação entre os partidos da base:

¿ O que houve foi uma discreta canelada. A disputa acabou e nossa responsabilidade é com o país.

COLABORARAM: Isabel Braga e Cristiane Jungblut