Título: A conta da vitória
Autor: Camarotti, Gerson e Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 04/02/2007, O País, p. 3

Aliados cobram de Chinaglia que negocie com Lula vagas no Ministério e complicam reforma.

Gerson Camarotti e Chico de Gois

Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva vai travar uma queda-de-braço com os partidos aliados para fechar o Ministério do segundo mandato, decisão que vem adiando desde que foi reeleito. Para pressionar o Planalto, o novo presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), é a mais nova arma dos governistas com sede de poder na Esplanada. Devedor do apoio para sua eleição, Chinaglia recebeu dos partidos a missão de negociar com Lula. PMDB, PP e até mesmo o PR (ex-PL) esperam que Chinaglia, com o poder do cargo, consiga os ministérios desejados pelas bancadas aliadas na reforma ministerial.

De forma reservada, o petista assumiu compromisso com os principais coordenadores de sua campanha. A força adquirida por Chinaglia é considerável, a começar pelo poder de emperrar a pauta de votação de interesse do Executivo. Mas o cacife do grupo vitorioso na disputa pela presidência da Câmara não é único problema: os partidos governistas derrotados, como PCdoB e PSB, aguardam compensações.

Diante das dificuldades, Lula desabafou ao fim da eleição na Câmara:

¿ É agora que começa a minha luta. Ainda bem que tem o carnaval pela frente.

O presidente disse que vai precisar de tempo para fechar a nova equação da Esplanada. Cada partido já fez até a lista de ministérios e cargos de interesse das respectivas bancadas.

O PP, além de manter o Ministério das Cidades, quer indicar um deputado para a Agricultura em troca dos seus 42 na Câmara. O partido de Paulo Maluf está listando cargos de segundo escalão, como o comando do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil), a Secretaria de Ciência Tecnológica do Ministério da Saúde, além de diretorias em órgãos como Furnas e Anvisa. O líder do partido, Mário Negromonte (PP-BA), aposta no novo trunfo ¿ Chinaglia.

¿ Em função da nossa amizade, tenho certeza que Chinaglia não se furtará a dar o aval de nossos pleitos junto ao presidente Lula. A eleição na Câmara mostrou a força desses partidos que elegeram Chinaglia. E isso vai pesar na negociação ¿ avisa Negromonte, que deve levar uma lista ao Planalto já na próxima semana.

No PR (ex-PL) a expectativa é semelhante. O líder na Câmara, Luciano Castro (RR), ressalta que Lula deve levar em conta o tamanho das bancadas. O PR, com 33 deputados, quer manter o Ministério dos Transportes e ganhar outra pasta, já prevendo que chegará aos 40 deputados:

¿ O ministério de cada partido deve ser de acordo com o tamanho das bancadas. Se eu tivesse dez deputados, a situação seria uma. Mas com 40, é completamente diferente. Temos que ter pastas mais robustas ¿ explica Castro. ¿ Ao elegermos o presidente da Câmara, passamos a ter uma força ainda maior, já que temos compromisso com a governabilidade. O Chinaglia reconhece o empenho dos que o apoiaram.

O PMDB aposta no crescimento do espaço do partido: está de olho na Integração Nacional, hoje com o PSB, além de manter a Saúde. O presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), aguarda para apresentar suas demandas.

Líderes e dirigentes do PSB e PCdoB, que apoiaram a candidatura de Aldo Rebelo na Câmara, demonstram preocupação com a ofensiva de PP e PR, que estão aumentando suas bancadas diante da perspectiva de mais espaço no governo. O senador Renato Casagrande (PSB-ES), alerta que esse tipo de negociação foi pivô da crise política do primeiro mandato.

¿ O governo não deve deixar que se repita o método do passado, quando bancadas como o PP, PL e PTB engordaram bancadas em troca de espaço no governo. Ninguém filia 11 deputados de uma vez sem prometer cargos e facilidades. O presidente Lula tem que ficar alerta para que não se repita o mesmo erro do passado.

Lula enfrenta outra dificuldade: ele havia definido que não mais nomearia para cargos no governo derrotados nas eleições, como fez no outro mandato. Mas há duas indicações para a Secretaria Especial de Direitos Humanos: Luiz Eduardo Greenhalgh e Renato Simões (deputado estadual paulista). Lula, porém, sinalizou que tem dificuldades em escolhê-los (Simões seria adjunto de Greenhalgh) porque não foram reconduzidos ao Legislativo.

O PT foi avisado que não ampliará sua cota na Esplanada, apesar da reação de petistas. O partido estava de olho no Ministério das Cidades para a ex-prefeita Marta Suplicy. Depois da reação do PP, Lula já estuda outra opção para contemplar Marta: a Educação, já que o ministro Fernando Haddad é da sua cota pessoal, o que facilitaria seu deslocamento.

Na terça-feira, o ministro Tarso Genro, designado por Lula, receberá o PT, que já organizou sua lista de pleitos. Setores do partido não querem ouvir falar de compensação aos aliados com prejuízo para os petistas. Segundo o terceiro vice-presidente do PT, deputado Jilmar Tatto (SP), o partido não está disposto a desistir dos ministérios das Cidades e da Saúde.

¿ Uma coisa (a eleição de Chinaglia) não está ligada à outra (o espaço do PT no governo) ¿ disse Tatto.