Título: Quem vota sim tem opção não
Autor: Niemeyer, Adriana
Fonte: O Globo, 04/02/2007, O Mundo, p. 43

Ex-ministra da Saúde do governo socialista de Antônio Guterrez, Maria de Belém é coordenadora do Bloco Socialista pelo Sim. Ela afirma que o caráter clandestino do aborto põe em risco a vida das mulheres e as deixa sem apoio.

Qual a principal razão para os portugueses votarem ¿sim¿ no referendo?

MARIA DE BELÉM: A atual situação, que criminaliza a mulher que pratica a interrupção da gravidez, não tem evitado o aborto clandestino. Ao contrário, ele vem aumentando. Calcula-se que sejam feitos 17 mil abortos clandestinos ao ano, o que leva essas mulheres a um buraco escuro, onde, além de correrem risco de vida, não têm qualquer apoio psicológico.

Os movimentos do ¿não¿ acusam o governo de gastar 22 milhões com a Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) em vez de aplicá-los em planejamento familiar.

BELÉM: Ao contrário do que dizem os movimentos do ¿não¿, essa é uma oportunidade para trazer muitas mulheres para o sistema de saúde público. Que o aborto seja feito nos hospitais públicos não significa que haverá menos dinheiro para investir em planejamento familiar. Essa afirmação é absurda porque se comprova em toda a UE que após a legalização existem menos abortos e mais ajuda às mulheres que decidam ter o filho.

Os movimentos do ¿não¿ são mais organizados e em maior número. A abstenção pode ser um grande problema para o ¿sim¿?

BELÉM: Logicamente pedimos a todos os eleitores que votem, seja pelo ¿sim¿ ou pelo ¿não¿. Este é um direito que deve ser exercido. Gostaria que ficasse claro que este referendo não é para facilitar o aborto, mas descriminalizar quem o faz em certas circunstâncias. É importante ter em mente que quem vota ¿sim¿ tem a opção pelo ¿não¿, mas quem vota ¿não¿ fica sem a opção do ¿sim¿. (A.N.)