Título: O novo ministério
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 05/02/2007, O Globo, p. 2

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva inicia o segundo mandato com uma base parlamentar mais sólida. Ela está estruturada na coligação PT-PMDB e tem como coadjuvante o Bloco de Esquerda (PSB-PDT-PCdoB). A base governista é composta por 350 deputados e 50 senadores. Nas próximas semanas, ao escalar o ministério, o presidente dará o arremate final no seu governo de coalizão.

A composição do governo é uma tarefa complexa. Os partidos governistas têm ambições concorrentes que precisam ser bem administradas. A guerra começa no PT. O Campo Majoritário, reunido no fim de semana, deu início à temporada de caça ao ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, por causa de suas posições pela renovação do PT. Esse movimento não pretende impedir sua ida para a Justiça, mas enfraquecê-lo para que não ajude a segurar o ministro da Educação, Fernando Haddad, abrindo caminho para a ex-prefeita de São Paulo Martha Suplicy.

O PT ainda quer retomar as pastas da Saúde, que o PMDB gostaria de manter, e das Cidades, que o PP quer manter. O líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), está preocupado com a tentativa de transformar o partido em barriga de aluguel. A indicação de José Gomes Temporão para a Saúde, de inspiração petista mas assumida pelo governador Sérgio Cabral, não é bem-vista no partido.

¿ Temos consciência dos deveres e dos direitos que temos como maior bancada. Tudo tem que passar pela discussão e decisão da bancada ¿ diz Henrique.

Os pemedebistas trabalham com a idéia de que a bancada do Senado manterá Comunicações e Minas e Energia, e que a Câmara será atendida com as nomeações de dois ministros: Transportes, Cidades ou Integração. Também aqui há obstáculos a serem vencidos. O ex-ministro Ciro Gomes e o PSB, agora anabolizado pelo Bloco de Esquerda, querem manter Pedro Brito na Integração Nacional. Por isso, acham mais fácil para o presidente Lula oferecer outra pasta para o PR, que sonha voltar para Transportes; e deslocar o PP, das Cidades para a Agricultura, pasta que já teve como secretário-executivo o ministro Marcio Fortes. Mas o PP não quer nem ouvir falar.

¿ Nós não vamos aceitar isso. Somos a terceira bancada da base. Se não for Cidades, não queremos nenhum ¿ afirma o líder Mario Negromonte (BA).

O clima, entre os aliados, é de inquietação com a falta de decisão. E a tensão vai aumentar quanto maior for a demora do anúncio da nova equipe pelo presidente.