Título: Reação interna
Autor: Freie, Flávia
Fonte: O Globo, 05/02/2007, O País, p. 3

Alas dentro do partido rechaçam anistia

Chico de Gois, Diana Fernandes e Cristiane Jungblut

BRASÍLIA. As reações das alas mais à esquerda do PT começaram ontem mesmo. Os grupos que estão fora do Campo Majoritário tentarão impedir que a reunião do diretório nacional, sábado, em Salvador, ou o Congresso Nacional do partido, em julho, abriguem a discussão de um pedido de anistia para José Dirceu. Líderes na Câmara também rechaçaram a idéia.

Os petistas consideram que levar esta questão à instância partidária é contribuir para o desgaste da legenda num momento em que o PT ganha destaque com a eleição de Arlindo Chinaglia (SP) à presidência da Câmara. O secretário-geral do PT, Raul Pont, da Democracia Socialista, diz que antes de discutir a anistia, o partido deve pôr em prática resolução de dezembro de 2005, que previa comissão de ética para envolvidos com o mensalão.

¿ Temos que discutir é como reformar o PT e nesse debate não cabem personalismos ¿ disse o ex-líder da bancada deputado Walter Pinheiro (BA), também da Democracia Socialista.

O secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, da Articulação de Esquerda, até defende a anistia, mas não o engajamento do partido na campanha. Para ele, membros do Campo Majoritário querem usar a anistia na luta interna, para conseguir mais espaço dentro do partido. Já a deputada Maria do Rosário (RS), do Movimento PT, de centro, diz que o partido tem é que debater a política nacional.

¿ É um direito do Dirceu querer recuperar os direitos políticos. Mas o partido deve avaliar seus temas prioritários ¿ afirma o governador de Sergipe, Marcelo Déda, afinado com as propostas de rediscussão do partido.

Na Câmara, a resistência ao assunto é evidente. O líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), vê a proposta como desrespeito às decisões do Parlamento. O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) estranha este movimento do PT três dias após eleger Chinaglia. Aliado do governo, Luciano Castro, líder do PR, afirmou que o momento é difícil e impróprio. O líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN) não quis opinar sobre a anistia.