Título: A nova Rússia
Autor: Medvedovsky, Aleksander
Fonte: O Globo, 05/02/2007, Opinião, p. 7

Em dezembro passado fez 15 anos que a URSS deixou de existir. Esta data não passou despercebida pela imprensa brasileira. A leitura dessas matérias mostra a visão predominante no Brasil das mudanças que ocorreram na Rússia durante esses curtíssimos 15 anos. O fato de a imprensa nacional não ter hoje seus representantes em Moscou talvez explique a percepção da Rússia atual, que está sendo passada aos leitores. O tradicional desconhecimento da realidade desse país, de suas profundas mudanças sociais, ideológicas e econômicas, vem se agravando e contribui de maneira importante, entre outras coisas, para o atual nível insatisfatório das relações comerciais entre os dois países.

Dois anos atrás, em artigo, comentei que a parceria estratégica envolve o profundo conhecimento do parceiro, e que para isso o papel da imprensa é fundamental. Precisamos reconhecer que ainda estamos longe.

Voltei há pouco de Moscou. Estivera lá na última vez há dois anos. As mudanças impressionam. Quem não sabe de 1991 e desconhece a crise econômica de 1998, dificilmente acreditaria que tais acontecimentos existiram na história da Rússia.

Crescimento econômico mensal em torno de 7%, acompanhado de real aumento dos salários e aposentadorias em 15% ao ano são resultados concretos. O PIB já está próximo ao brasileiro, mas estamos falando de um país que durante um século sobreviveu a cinco guerras, das quais duas mundiais, e a três mudanças drásticas de regime. As indústrias nacionais crescem. A alimentícia, por exemplo, 8% ao ano. E 70% das empresas locais tiveram lucro no ano passado. O nível de investimentos estrangeiros continua crescendo.

O país que vem de 300 anos de monarquia e do implacável ¿ durante 74 anos ¿ regime bolchevique, com todas as suas mazelas, de um único partido político, está rapidamente se transformando em sociedade democrática, apesar de todos e bem conhecidos problemas de crescimento, mudanças do pensamento da sociedade, complicações étnicas, políticas e históricas e exageros na formação de suas elites.

O presidente tem 85% de aprovação popular, um resultado que reflete a melhoria da qualidade de vida da população, o resgate da auto-estima, o sentimento de que o pais voltou a ser player importante no cenário mundial, tanto político quanto econômico.

Obviamente, os problemas existem e não são poucos. Entretanto, é preciso reconhecer, comparando os últimos 15 anos do Brasil e da Rússia, que este período foi muito mais proveitoso para a Rússia, sua população, sua economia, com resultados alcançados em todas as áreas.

Seria ótimo se esse aspecto fosse analisado e mais destacado pela imprensa brasileira, o que permitiria não somente levar aos leitores informações objetivas, mas contribuir de forma positiva para o crescimento do interesse de nosso país em aumentar as relações bilaterais, que continuam ainda num nível muito longe da anunciada parceria estratégica.

ALEKSANDER MEDVEDOVSKY é empresário.