Título: Oposição, atordoada, busca novos caminhos
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 05/02/2007, O País, p. 8

PSDB estuda como enfrentar Lula sem prejudicar governadores; PFL anuncia luta sem trégua contra petistas

Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. Diante do crescimento da base governista de Lula no Congresso com a adesão estratégica do PMDB, e ainda sob o desgaste da participação na eleição do petista Arlindo Chinaglia (SP) na Câmara e do peemedebista Renan Calheiros (AL) no Senado, a oposição, dividida, busca novo rumo e um discurso mais consistente contra o governo petista. Para isso, PSDB e PFL terão primeiro de administrar não só as diferenças de estilo, cada vez mais gritantes, como também suas divergências internas.

Apontados como principais responsáveis pela vitória de Chinaglia, os tucanos estão divididos entre uma postura mais agressiva em relação ao governo Lula e a opção de uma oposição mais leve.

¿ Estamos numa ressaca. Teremos de achar nosso caminho com nova agenda e definir que tipo de oposição vamos fazer ¿ cobra o deputado novato Bruno Araújo (PSDB-PE).

]Executiva do PSDB terá reunião amanhã

Na tentativa de reunificar o discurso do partido, o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), convocou reunião da executiva nacional para amanhã. Sua idéia é aproveitar o documento que técnicos do partido fizeram sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para pautar o comportamento tucano daqui para a frente.

Mas, enquanto Tasso deixa clara sua preferência por uma atuação mais firme e combativa do partido na oposição, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), pondera sobre a situação dos seis governadores do partido. Especialmente com Teotônio Vilela (AL) e Yeda Crusius (RS), que enfrentam crises fiscais gravíssimas, cuja solução passará necessariamente por uma ajuda do governo federal.

Por isso, Virgilio considera mais recomendável que o partido opte por fazer uma oposição que ele chama de sensata na área econômica e outra mais exigente no campo ético, de modo a não comprometer a governabilidade do país e, conseqüentemente, a dos governadores tucanos.

¿ Uma oposição radical não vai nos levar à vitória em 2010, se o Teotônio não conseguir fechar as contas de Alagoas, onde encontrou uma dívida de R$410 milhões e apenas R$4 milhões em caixa. E se a Yeda não desatar o nó fiscal do Rio Grande do Sul, onde os gastos correntes do estado representam 110% de toda a arrecadação? ¿ pondera Arthur Virgílio.

¿ Não existe essa coisa de oposição light. Inviabilizar a governabilidade não é coisa que passa pela nossa cabeça ¿ rebate Tasso.

Os pefelistas rejeitam de antemão a hipótese de dar qualquer tipo de refresco ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mesmo porque só conseguiu eleger um único governador no ano passado, José Roberto Arruda (DF). Para o líder da minoria na Câmara, deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), seu partido tem de traçar seu próprio rumo e mostrar com nitidez as suas diferenças em relação não só ao PT e PMDB, como em relação ao tradicional parceiro tucano, para não sofrer novo revés nas eleições de 2008 e 2010.

¿ Aderir ao governo Lula seria melhor do que fazer uma opção soft. Se continuarmos como estamos, a derrota de 2010 já está preparada. O PSDB parece satisfeito com os poderes que conquistou nos estados. Mas este é um caminho perigoso, porque tais poderes não costumam unir nenhum partido. O PFL está mais livre e por isso mesmo tem obrigação de fazer oposição, como partido nacional. É a nossa única tábua de salvação ¿ argumenta Aleluia.

Tucanos falam em iniciar amplo debate interno

Para reverter suas divergências, os tucanos estão dispostos a iniciar amplo debate interno, que deverá culminar na reformulação da proposta programática. Com a ajuda do senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) ¿ liderança emergente na oposição ¿ Tasso quer organizar vários grupos de trabalho para reestruturar o partido. Um deve avaliar a imagem da legenda e outro tentará resolver problemas estaduais, além de discutir a elaboração do novo estatuto do PSDB.

¿ Precisamos reunificar e modernizar o partido. O desgaste que temos por causa da eleição na Câmara reflete problema antigo não equacionado, de falta de unidade interna ¿ observa Guerra.

O PSDB inicia o ano legislativo na Câmara com líder novo, o paulista Antonio Carlos Pannunzio, ligado ao governador José Serra como era o anterior, o baiano Jutahy Magalhães. O PFL, seguindo a linha de oposição agressiva e contundente a Lula, escolheu como substituto do líder Rodrigo Maia (PFL) outro deputado jovem, também disposto ao discurso duro que o partido quer contra o governo: o gaúcho Onyx Lorenzoni assume a liderança semana que vem.