Título: Inadimplência controlada ajuda o varejo
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: O Globo, 17/08/2006, Brasil, p. A4

O desempenho do comércio varejista em junho foi mais fraco do que o de maio e o volume de vendas cedeu 0,38%, na série com ajuste sazonal. Esse resultado, contudo, não deverá se repetir nos próximos meses. Redes de varejo e analistas do setor apostam em uma recuperação mais forte das vendas, após os efeitos negativos da saída do Brasil da Copa do Mundo e dos ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC), em São Paulo. Colaboram para essa previsão níveis comportados de inadimplência, sem o aumento recente verificado nos empréstimos do sistema financeiro às pessoas físicas.

As Lojas Cem já sentiram uma melhora no movimento em julho. Segundo Valdemir Coleone, supervisor geral da rede, as vendas cresceram 20% em julho na comparação com junho. Em relação a igual mês de 2005, a alta foi de 15%. São números melhores do que os de junho, quando as vendas ficaram estáveis em relação a maio e 12% acima do resultado de junho do ano passado.

Coleone conta que, depois de muito meses com a linha de eletroeletrônicos encabeçando o aumento das vendas, os produtos da linha branca, como geladeira e fogão, voltaram a impulsionar o desempenho da rede. "Esse consumo ficou represado e foi deixado em segundo plano. Agora as pessoas estão voltando a comprar esses bens", afirma.

Nas lojas Colombo, a maior rede de varejo do Rio Grande do Sul, a perspectiva também é positiva. Após um aumento de 10% nas vendas entre junho e julho, a empresa espera vender 5% mais em agosto, na comparação com julho. O diretor de vendas da rede, Arnildo Heimerdinger aposta em um segundo semestre aquecido, especialmente a partir de outubro. As vendas devem crescer 10% em relação ao período de julho a dezembro de 2005.

A Rosenberg & Associados também prevê elevação das vendas do comércio varejista em julho. Lygia de Salles Freire César, economista da consultoria, diz que embora o crédito esteja contribuindo menos para o aumento marginal das vendas do comércio, ele ainda impulsiona o setor e é ajudado agora pelo aumento da massa de salários.

O supervisor das Lojas Cem está de olho nos índices de inadimplência. Embora ela esteja estabilizada no curto prazo, cresceu quando a comparação é feita com um período mais longo. Há dois anos 3% de tudo o que era vendido na loja não era pago (depois de 180 dias a dívida é dada como perdida). Hoje, esse percentual está em 5%. "Não subiu recentemente porque tomamos cuidado com a concessão de crédito", relata.

Pelos dados da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), em julho, a taxa de inadimplência líquida ficou em 3,9%, abaixo de julho do ano passado (4,2%) e de junho, quando ficou em 5%. Emílio Alfieri considera que esses percentuais são baixos e a inadimplência no varejo não preocupa. "Acho que os bancos estão sofrendo mais com esse problema, pois começaram a conceder crédito ao consumidor a menos tempo", afirma. Segundo ele, o varejo aprendeu a lição e está muito mais cauteloso.

Na avaliação de Fábio Silveira, da RC Consultores, a inadimplência não irá preocupar este ano, já que a massa de salários tem crescido em ritmo superior ao da inflação. Sua projeção é de alta de 5,2% na massa, enquanto o mercado espera uma inflação ao consumidor, medida pelo IPCA, de 3,74%.

Em relação a junho de 2005, pelos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados ontem, o volume de vendas do varejo aumentou 4%, enquanto a recita nominal avançou 4,75%. "São bons resultados, se levarmos em conta que junho deste ano teve um dia útil a menos e foi prejudicado pelos dias de jogos da Copa do Mundo e pelos ataques do PCC", comenta o economista.

O setor de equipamentos e materiais de escritório, informática e comunicação apresentou a maior variação percentual: 31,3% na comparação com junho do ano passado. O ramo de super e hipermercados também foi bem, com incremento de 9% nas vendas. Por outro lado, as lojas de tecidos, vestuário e calçados não foram bem e tiveram queda de 3,14% nas vendas. Porém, na comparação com o mês anterior, somente o comércio de hiper e supermercados, alimentos, bebidas e fumo apresentou uma variação positiva, de 1%. As vendas de veículos e motos chegaram a ceder 5,46% e as de móveis e eletrodomésticos caíram 5%.