Título: Apesar do ceticismo
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 07/02/2007, O Globo, p. 2

A Câmara deu ontem estudados sinais de que tentará mudar algumas condutas para resgatar sua honra política. As medidas adotadas pelo novo presidente, Arlindo Chinaglia, juntamente com os líderes, são banais e protocolares. Mas, depois de tudo, até mesmo a restauração de preceitos básicos previstos pelo regimento é um alento. Desde que não seja fugaz como a disposição dos colegiais na primeira semana da volta às aulas, logo dissipada.

Deve estar decepcionado o baixo clero que se pautou na eleição da Mesa pelas promessas de correção salarial. Em algum momento o assunto terá que ser examinado, mas não podia ser colocado como prioridade legislativa. Da mesma forma, os que esperavam que fosse esquecido o projeto que extingue os mais de mil cargos comissionados que eram irregularmente ocupados. Aldo Rebelo fez as demissões mas faltava acabar com os cargos.

Anotar falta, com punição financeira, para os deputados que não participarem das votações nominais é imperativo regimental. Chinaglia avisou ontem que será rigoroso. Outros já disseram o mesmo e depois relaxaram. O trabalho de segunda à sexta-feira nas semanas que antecedem feriados, como a próxima, devia ser norma. Vamos ver se a prática vinga. Já esperar que os congressistas trabalhem sempre em ritmo de semana cheia é ilusão. Eles não vão deixar de usar a segunda e a sexta-feiras para ficar no estado. Dizem que precisam visitar municípios, atender eleitores, participar da vida partidária. Melhor exigir que trabalhem mais nos três dias que dedicam à Câmara.

Outra decisão de Chinaglia que só faz sentido para quem acompanha os trabalhos é a de fazer com que as sessões comecem na hora marcada, 16h. Há alguns anos não se cumpre o horário, fica-se esperando que o plenário alcance quórum. Não dá. Para eles mesmos, é inconveniente. A impontualidade estimula as fugas a ministérios e repartições para resolver problemas e, com isso, o trabalho não anda.

A agenda legislativa começou por onde deveria começar mesmo. Pelas medidas provisórias, pela extinção de cargos e pelas MPs antigas; depois, virão as do PAC. Chinaglia, entretanto, não atendeu ao pedido do líder do PSOL, Chico Alencar, para marcar a votação de duas outras pendências importantes: o projeto sobre o nepotismo e o que acaba com o voto secreto. Se a intenção é acenar para a sociedade, deve-se votar estes projetos. Ela já explicitou que os deseja.