Título: PT vai apoiar congelamento de salário do STF
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 07/02/2007, O País, p. 3

Desafio de Marco Aurélio propondo troca de vencimentos reacendeu polêmica

BRASÍLIA. A polêmica sobre os vencimentos no Legislativo e no Judiciário ganhou fôlego. O líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS), avisou ontem que o partido vai apoiar a proposta de congelamento dos salários dos ministros do STF em R$24.500, até que o teto do funcionalismo público seja votado. Anteontem, o ministro do STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marco Aurélio de Mello, disse que aceitaria trocar seu salário pelo subsídio dos parlamentares (R$12.847), caso também recebesse os benefícios dados a senadores e deputados. Ele criticou a ameaça de congelamento, que vem sendo feita por parlamentares.

¿ A declaração dele foi infeliz. O Brasil não quer assistir a uma espécie de disputa para saber qual é o maior e o menor salário. O Brasil quer, e a bancada do PT vai apoiar esse movimento, que se freie o aumento do chamado teto salarial nacional. Nós já temos salários demasiadamente elevados ¿ afirmou Fontana.

Ontem, alguns deputados condenaram, no plenário, a atitude de Marco Aurélio de desafiá-los. O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), evitou polemizar e descartou qualquer tipo de crise entre os poderes. Cobrado em plenário pelos deputados Vanessa Graziotin (PCdoB-AM) e Pedro Fernandes Ribeiro (PTB-MA), Chinaglia fez um comentário sobre o desafio do ministro, para, em seguida, tentar minimizar a polêmica.

¿ A frase mais espirituosa seria: o ministro fez um voto de pobreza, dado que o salário de ministro é 24 mil reais e o salário de um deputado ou um senador é pouco menos 13 mil reais ¿ disse Chinaglia. ¿ Não creio ser relevante transformar isso num assunto nacional. Não é. É a opinião dele. Os deputados devem e podem chamá-lo para um debate. Mas o que o povo brasileiro espera não é a polêmica entre figuras da República. Essa é uma polêmica menor.

Pedro Fernandes criticou duramente Marco Aurélio e disse aceitar o desafio da troca de vencimentos:

¿ Quero trocar o meu salário com o dele. É presidente do TSE, aliás, um ministro muito falador. Precisa respeitar esta Casa. O motorista é pago com o salário dele? Os assessores dele são pagos com o salário dele? A gasolina sai de seu salário? Eu acho que a Câmara dos Deputados deveria fazer um pronunciamento oficial.

Mais cedo, Chinaglia disse que pretende ter boa relação com o STF e frisou que a opinião de Marco Aurélio não representa a de todo os ministros do tribunal:

¿ Quero me relacionar com o Supremo da melhor maneira. Portanto, com diálogo sereno e permanente. Não vejo crise entre os poderes. É a opinião de um ministro, que vamos respeitar, como respeitamos a opinião de qualquer ministro. Posso discordar de tons e formas, mas isso é irrelevante. Não tem porque ter crise ¿ disse Chinaglia.

O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), defendeu ontem uma solução urgente para as diferenças de teto salarial nos três poderes.

¿ Temos três tetos diferentes e acho injusto que haja uma diferença tão grande. É necessário aproximar.

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