Título: Tarso tira palavra corrupção de texto sobre PT
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 07/02/2007, O País, p. 8

Ministro mantém críticas ao Campo Majoritário, grupo que bombardeia a tentativa dele de assumir pasta da Justiça

Ricardo Galhardo

SÃO PAULO. Ameaçado de isolamento na disputa interna pelo controle do PT, o grupo que propõe a ¿refundação¿ do partido, liderado pelo ministro das Relações Institucionais Tarso Genro, suprimiu a palavra ¿corrupção¿ do documento ¿Mensagem ao Partido¿. Desde a divulgação de trechos do documento, integrantes do Campo Majoritário vêm bombardeando a tentativa de Tarso de assumir o Ministério da Justiça. O texto, ao qual o GLOBO teve acesso ontem, será apresentado sexta-feira, no aniversário de 27 anos do PT, em Salvador.

O documento original, escrito por Tarso há duas semanas, dizia que ¿o PT viveu uma crise de corrupção ética e programática¿. A versão fechada às 17h de ontem (e ainda sujeita a alterações), com emendas e sugestões de cerca de 30 líderes do partido, afirma que o PT passou por uma crise ¿ética e política¿, mas suprime o termo ¿corrupção¿.

A nova versão também diz explicitamente que o objetivo da crítica não é apontar responsabilidades individuais. Segundo fontes petistas, a intenção é evitar que o documento seja interpretado como apenas mais uma peça na contenda entre Tarso e o deputado cassado José Dirceu, do grupo Campo Majoritário.

¿Nosso partido ainda não superou a crise originária da hegemonia absoluta de um núcleo dirigente (...) Esta constatação não é registrada para incriminar indivíduos nem se refere a uma única tendência, mas pretende alertar o partido para a necessidade de recuperação dos princípios democráticos que formaram a fundação do PT, visando superar uma forma de direção que, se é verdade que foi capaz de nos dirigir para a vitória de Lula em 2002, também nos legou uma grave crise ética e política¿, diz a versão atual.

Governadores ainda não assinaram o documento

O documento tem apoio da corrente de esquerda Democracia Socialista (DS), intelectuais como Marilena Chauí, Paul Singer, Luiz Felipe de Alencastro e Maria Victoria Benevides, do vice-governador do Ceará, Francisco Pinheiro, da governadora do Pará, Ana Júlia e da prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (ambas integrantes da DS).

No entanto, os governadores Jaques Wagner (Bahia) e Marcelo Déda (Sergipe), e o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, ainda não assinaram.

¿ Para um intelectual ou um parlamentar, é fácil assinar. Eles não precisam de verbas nem de apoio político. Mas para um governador em início de mandato, é suicídio. Assinar este documento é comprar briga com um monte de gente importante¿ disse um dirigente.

De acordo com o secretário-geral do PT, Joaquim Soriano (integrante da DS), o Campo Majoritário age com truculência. O principal alvo tem sido o próprio Tarso Genro, que pleiteia o Ministério da Justiça.

¿Ao entrar na disputa interna desta forma, Tarso no mínimo se descredencia para ocupar um ministério importante como o da Justiça. Não tem como fazer disputa no PT e cuidar da Polícia Federal ao mesmo tempo ¿ disse um dirigente ligado ao Campo Majoritário.

Outro motivo que tem dificultado adesões é a forma errática como o ministro se coloca nas disputas partidárias. Para muitos petistas, ele usa a polêmica para se manter em evidência.