Título: Negros têm rendimento escolar pior que bancos
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 07/02/2007, O País, p. 10

Pesquisa da Unesco mostra que, quanto maior o nível social, maior a disparidade

BRASÍLIA. Um estudo divulgado ontem pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) mostra que estudantes negros têm desempenho escolar pior do que os alunos brancos, mesmo quando são da mesma classe socioeconômica. Na classe de maior poder aquisitivo, a discrepância é ainda mais marcante entre brancos e negros.

O estudo, que contou com a publicação intitulada ¿Relações Raciais na Escola: Reprodução de Desigualdades em nome da Igualdade¿, foi feito com base nos resultados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2003, aplicado em alunos da rede pública e particular de 4ªe 8ª séries do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio.

Na classe A, diferença entre brancos e negros é maior

Entre os alunos brancos da classe A na 4ª série, apenas 10,3% dos estudantes tiveram desempenho crítico ou muito crítico na prova de matemática, contra 23,4% dos negros no mesmo status socioeconômico. Ou seja, uma diferença de 13,1 pontos percentuais.

Já na classe E (os mais pobres), 78,7% dos alunos brancos de 4ª série tiveram desempenho crítico ou muito crítico em matemática, enquanto, entre os negros, esse percentual foi de 80,6%: uma diferença de 1,9 ponto percentual.

A pesquisa mostra ainda que, comparando as médias gerais obtidas por alunos nos testes de matemática nas três séries avaliadas pelo Saeb, os negros tiveram o maior percentual de notas baixas, com desempenho considerado crítico ou muito crítico. Na 4ª série, 44,7% dos brancos tiveram nota baixa na prova de matemática contra 56% no caso dos negros. Uma diferença de 11,3 pontos percentuais. No caso da prova de matemática na 3ª série do ensino médio, a diferença foi ainda maior: 15,3 pontos percentuais. Enquanto 60,9% dos brancos tiveram pontuação crítica ou muito crítica, 76,2% dos negros tiveram esse mesmo desempenho.

Resultado é reflexo de clima desfavorável ao negro

A coordenadora do estudo, Mirian Abramovay, afirmou que a diferença de rendimento reflete o ¿clima escolar¿, ou seja, a forma como os estudantes negros são tratados pelos demais alunos, pelos professores e pelos diretores das escolas. Ela disse que são comuns os apelidos pejorativos e diversas formas de preconceito contra estudantes negros. O problema, segundo ela, costuma ser mascarado, como se o racismo fosse uma brincadeira carinhosa.

A pesquisadora Mary Garcia Castro, que também coordenou o estudo, afirmou que as escolas devem agir deliberadamente para combater práticas racistas:

¿ Não se pode tratar igualmente os desiguais.

O estudo contém, ainda, pesquisa qualitativa realizada em cinco capitais: Belém, Brasília, Salvador, São Paulo e Porto Alegre, onde foram ouvidos estudantes de 25 escolas. (Demétrio Weber).