Título: Marinho culpa BC e Meirelles rebate
Autor: Eloy, Patricia
Fonte: O Globo, 07/02/2007, Economia, p. 27

Presidente do Banco Central nega pressão de Lula. Custo fiscal chegaria a US$2 bi

Geralda Doca, Martha Beck, Regina Alvarez e Ronaldo D'Ercole

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, culpou ontem o Banco Central (BC) pela desvalorização do dólar. Em sua avaliação, o BC ¿bobeou¿ ao desacelerar o ritmo de queda dos juros. Henrique Meirelles, presidente do BC, negou pressões do presidente Lula para intervir no câmbio e rebateu Marinho, após encontro com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Segundo ele, o BC não trabalha com metas para o dólar, somente para a inflação.

Meirelles, Mantega e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, foram convocados de última hora por Lula para uma reunião, às 20h, no Palácio do Alvorada. O convite seria para um happy hour. O porta-voz da Presidência da República, André Singer, disse que Lula marcou em sua residência oficial, para ter uma conversa informal. Segundo ele, não havia um tema específico, mas, de acordo com fontes, o presidente estava preocupado com o dólar.

¿ Acho que o BC está bobeando. Ele bobeou ao desacelerar o ritmo de redução dos juros ¿ disse Marinho.

Segundo o ministro, aparentemente, há erro na condução da política de câmbio, já que ¿o dólar está batendo nos R$2.¿

Meirelles, ao ser perguntado se Lula está preocupado, disse que não sabe ¿o que está ou não preocupando¿ o presidente.

¿ Em relação à ação do BC, o BC está seguindo a mesma política desde 2004. ¿ afirmou. ¿ O BC prossegue com sua bem-sucedida política de acumulação de reservas.

Meirelles também respondeu às críticas de Marinho:

¿ O BC trabalha com um regime de metas de inflação, não de metas de câmbio.

A estratégia do BC de elevar as reservas para tentar barrar a queda do dólar resultou em um acréscimo de US$2 bilhões (R$4,28 bilhões) no saldo da dívida pública federal em 2006, segundo o economista-chefe do Banco Schahim, Sílvio Campos Neto.

¿ Aumento das reservas gera endividamento, pesa negativamente ¿ disse, acrescentando que a redução do ritmo de cortes nos juros foi a senha para a corrida dos investidores aos papéis brasileiros, que inunda de dólares o mercado.