Título: BC volta a atuar, mas dólar recua para R$2,086
Autor: Eloy, Patricia
Fonte: O Globo, 07/02/2007, Economia, p. 27

Moeda cai apesar de compras de US$5,4 bi do Banco Central no ano. Risco-Brasil bate recorde, mas fecha estável

Patricia Eloy

RIO e SÃO PAULO. A compra de ações por estrangeiros, operações na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), recursos captados por empresas brasileiras no exterior e dólares provenientes da exportação levaram a moeda americana a fechar abaixo dos R$2,10 pelo segundo dia consecutivo. Num dia de forte volume de operações ¿ mais de US$3 bilhões ¿ o dólar recuou 0,38%, para R$2,086. É o menor valor desde o dia 10 de maio do ano passado (R$2,061). Antes, a menor cotação fora registrada em 2001, quando o dólar iniciou o ano em R$1,94.

A perspectiva de elevação da nota de crédito do Brasil ¿ indicada ontem pela agência de classificação de risco Fitch ¿ trouxe otimismo. Ontem, o risco-Brasil chegou ao nível inédito de 176 pontos e a Bolsa de Valores de São Paulo cravou novo recorde histórico em pontos no pregão: 45.485. No fim do dia, o risco ficou estável em 180 pontos e a Bolsa subiu 0,14%, pouco abaixo do recorde.

No mercado de câmbio, o Banco Central (BC) fez novo leilão de compra de moeda ¿ a R$2,0839 ¿ mas conseguiu apenas que a cotação, que recuou durante todo o dia, ficasse mais próxima da máxima de ontem, de R$2,088. Apenas em janeiro, o BC teria comprado US$5,4 bilhões, mas o dólar acumula queda de 2,39% este ano.

Aposta dos bancos em queda do dólar dobra em um mês

Analistas dizem que não faltam fundamentos que justifiquem o dólar mais barato, mais próximo dos R$2. Entre eles, estão as apostas de um dólar mais baixo feitas por estrangeiros nos contratos futuros negociados na BM&F. Segundo Mário Paiva, analista de câmbio da corretora Liquidez, tais operações, que somavam US$6,7 bilhões em dezembro de 2006, chegaram ontem a US$12,07 bilhões.

¿ Estamos próximos a níveis recordes históricos, ou seja, nunca se apostou tão alto numa queda do dólar ¿ diz ele.

Embora o saldo estrangeiro na Bolsa tenha ficado negativo em R$1,2 bilhão em janeiro, o dado não inclui os lançamentos de ações. Este ano, apenas quatro operações já movimentaram R$2,33 bilhões. Estima-se que os estrangeiros tenham comprado mais de 70% do total.

¿ Os estrangeiros estão vindo com tudo para os mercados emergentes ¿ atesta Alexandre Schwartsman, economista-chefe para a América Latina do ABN Amro Real e ex-diretor do BC.

Exportadores: a política cambial é uma temeridade

O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), Benedicto Moreira, disse que a atual política de câmbio do BC é ¿uma temeridade¿ e que pode provocar ¿uma tragédia nas exportações brasileiras¿. Para ele, o dólar fraco está jogando por terra o ganho com a alta de preços das commodities e de produtos industrializados no mercado externo:

¿ É um choque de trens que temos à frente. Estamos construindo um cenário para voltar a ter problemas externos.

COLABOROU: Lino Rodrigues

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