Título: Etanol: EUA querem acordo com Brasil
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 07/02/2007, O Mundo, p. 34

Subsecretário de Estado americano defende ampla parceria com o país em biocombustíveis

Soraya Aggege

SÃO PAULO. O subsecretário de Estado para Assuntos Políticos dos EUA, Nicholas Burns, afirmou ontem em São Paulo que seu país está determinado a fechar um amplo acordo com o Brasil na área de biocombustíveis, principalmente etanol. Terceiro na hierarquia do Departamento de Estado, ele admitiu que não trouxe propostas efetivas para a compra do combustível brasileiro, mas descartou a hipótese de seu país estar empenhado em se aproximar do Brasil para conter o presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

¿ Não somos obcecados por Hugo Chávez. Ele não é alguém em quem pensemos muito. Estamos investindo nossa energia nos países parceiros, como Brasil e Argentina. Se Chávez quer usar políticas ultrapassadas, é um problema dele ¿ garantiu Burns.

A idéia do governo americano é conseguir parceiros para se livrar da dependência do petróleo e de seus prejuízos econômicos, afirmou. Hoje ele se reúne com o governo brasileiro para tratar do tema.

¿ Os biocombustíveis são o nosso ponto central. Em um futuro muito próximo teremos um acordo ¿ disse Burns em entrevista.

Mais tarde, em palestra, explicou:

¿ Estamos tentando um acordo de pesquisas para que nos livremos do petróleo, que nos causa tantos prejuízos econômicos. Não precisamos estar à mercê dos produtores de petróleo. A Venezuela, por exemplo, tem essa força por causa de seu petróleo. Podemos mudar isso juntos e seremos líderes globais.

Há duas semanas, o presidente George W. Bush disse que espera reduzir a dependência americana de petróleo em 20% num período máximo de dez anos e espera fazer isso ampliando o uso de etanol. Em encontro hoje com o governo brasileiro, Burns tratará não apenas de biocombustíveis, mas também de combate às drogas, tríplice fronteira e segurança mundial.

Apesar do aparente empenho na questão do etanol, Burns deixou claro que não poderá dar sinais ao governo brasileiro de que reduzirá as taxas para importar o álcool brasileiro, que chegam a 54%.

¿ Nosso Congresso é quem escreve nossas leis e precisamos cumpri-las. Ouvimos muitas reclamações aqui das tarifas, mas creio que poderemos avançar em outros pontos ¿ disse Burns. ¿ Sei que essa resposta não satisfaz, mas é a que eu tenho no momento.

Burns informou ainda que os Estados Unidos querem incluir a produção de etanol em outros países latino-americanos.

O embaixador Rubens Ricupero, que participou da reunião de Burns com os empresários, disse que o acordo é viável:

¿ É uma idéia muito positiva para sairmos dessa história sem fim dos acordos de comércio, porque os combustíveis são uma área perfeita.

O presidente da Amcham (Câmara Americana de Comércio), Alexandre Silva, da GE, também ficou animado.

¿ A visita em si já está sendo um bom sinal. Agora temos que trabalhar mais para reduzir as barreiras. O Brasil tem tecnologia e terras. As taxas vão se resolver ¿ disse Silva.

Preocupação com o Irã e os terroristas

O subsecretário americano também atacou a política do Irã. Segundo afirmou, os Estados Unidos estão preocupados com a possibilidade de o Irã estar cedendo tecnologia a terroristas.

¿ O Irã está cavando um buraco para si próprio. Seus únicos aliados são a Bielorrússia, a Síria e a Venezuela. Nós continuamos com a proposta de negociação e estamos sendo pacientes com eles ¿ afirmou. ¿ Agora, eles não podem continuar desafiando as Nações Unidas. Acho que o Irã está próximo de se isolar ainda mais.