Título: Mantega nega demissão do presidente do BC
Autor: Eloy, Patricia
Fonte: O Globo, 08/02/2007, Economia, p. 23

Ministro descarta `artificialismos¿ para câmbio e diz que não há pressão de Lula por intervenção

Patrícia Duarte e Martha Beck

BRASÍLIA. No mesmo dia em que o mercado financeiro foi afetado pelos rumores de que o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, deixaria o cargo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, saiu em defesa do colega. O motivo dos rumores é a pressão a que Meirelles estaria sendo submetido pelo presidente Lula para que a autoridade monetária faça uma intervenção mais forte no mercado de câmbio, para segurar a queda do dólar. O governo negou.

¿ Essa notícia (demissão de Meirelles) não tem nenhum fundamento. A vida está normal. Só se não me contaram nada ¿ afirmou Mantega, que há menos de um ano, quando ainda não estava à frente da pasta, batia de frente com a política monetária ditada pelo BC, sobretudo com a rigidez da política de juros.

Mantega disse, porém, que os rumores podem ter deixado Meirelles chateado:

¿ Quando começa a aparecer um boato como esse, é normal a pessoa ficar chateada. Eu também ficaria chateado se amanhã aparecesse a notícia de que o ministro da Fazenda está demissionário.

A atuação direta do BC ¿ defendida publicamente por vários integrantes da equipe econômica ¿ tem estado limitada às compras de moeda americana para compor as reservas internacionais.

A apreciação do real, inconveniente para o setor produtivo, foi um dos temas centrais da reunião convocada na noite de terça-feira pelo presidente Lula com Meirelles, Mantega e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. O BC não comentou o assunto.

Mantega: não há planos de reduzir alíquota de importado

As especulações sobre a possível saída de Meirelles acontecem no momento em que o presidente Lula abriu a temporada para negociar sua nova equipe. O assunto esquentou com a reunião de terça-feira. Naquele dia, o ministro Luiz Marinho (Trabalho) disse que o BC bobeou ao não cortar mais os juros em 2006 e ao desacelerar o ritmo de redução em janeiro e sugeriu que a política monetária era mal-administrada.

Sobre as insatisfações de seu colega, Mantega argumentou que não se pode usar ¿artificialismos¿ para resolver a questão cambial. O dólar está cotado abaixo dos R$2,10, o que tem tirado o sono de muitos setores produtivos, por perda de competitividade no exterior. Para Mantega, o descontentamento não é generalizado no Planalto.

¿ Dentro do governo, foi uma pessoa só que criticou (Marinho). Mas é normal que o BC faça um papel um pouco antipático. Se fosse sempre simpático, talvez não fizesse seu papel corretamente ¿ afirmou, acrescentando que o governo não estuda reduzir alíquotas de importação para conter a valorização do real, medida que só poderia ser usada se houvesse pressão inflacionária no país.

Mesmo com o tiroteio, Meirelles manteve sua agenda de compromissos ontem e embarcou para Portugal, onde participa do Fórum Brasil 2007 até o fim da semana.

Considerado um dos fiadores da boa situação econômica do país, Meirelles não tem intenção de deixar o cargo. O presidente do BC tem fincado o pé ao afirmar que a política cambial não será alterada, que o dólar é flutuante e, assim, depende das oscilações do mercado.

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