Título: A pornografia infantil é uma peste
Autor:
Fonte: O Globo, 08/02/2007, O Mundo, p. 28

BERLIM. Para o policial Torsten Meyer, comissário da delegacia de Magdeburgo, no leste alemão, a pornografia infantil atingiu a dimensão de ¿uma peste global¿. Meyer participou do desmonte de algumas das principais redes de pedofilia via internet nos últimos anos. Em entrevista ao GLOBO, ele disse que redes como a descoberta na Áustria ontem são ¿a ponta do iceberg¿.

Graça Magalhães-Ruether

O combate internacional à pornografia infantil é eficiente o bastante?

TORSTEN MEYER: Não, porque os casos são cada vez mais freqüentes. Lutamos muito para descobrir algumas redes internacionais, mas depois de descobrir precisamos admitir que pegamos apenas uma pequena peça de uma grande rede, que se expande todos os dias. O que temos condições de descobrir é apenas a ponta do iceberg. A pornografia é uma peste global por onde circula tanto dinheiro quanto no tráfico de drogas. Só com uma intensa cooperação internacional, no sentido de uma fiscalização maior da internet, seria possível um combate mais eficiente. Mas infelizmente ainda não existe conscientização no mundo. Há países onde a pornografia infantil ainda não é vista como delito.

Há uma ocorrência maior do delito em determinados países ou grupos da população?

MEYER: Não. Há hoje quase no mundo inteiro e nos mais diversos grupos profissionais. Na última grande rede que descobrimos, no final de janeiro, havia usuários de pornografia infantil em Europa, EUA, Brasil, Argentina e até no Vaticano. Isso não quer dizer que uma pessoa normal consuma imagens de pedofilia. São todos homens que já têm tendência, a causa pode estar na ausência de maturidade sexual, porque o amadurecimento parou na infância por diversos motivos, e tornam-se consumidores intensivos porque encontram oferta na internet.

Havia divulgação de pornografia também durante o regime comunista no leste alemão?

MEYER: Não. É uma prática típica da sociedade consumista, onde todos querem satisfazer suas tendências e onde a chance de ganhar dinheiro com a exploração de crianças faz com que a oferta na internet cresça.

O senhor descobriu o lugar de gravação das imagens ao desmantelar a última rede no final de janeiro?

MEYER: Conseguimos chegar até uns sites nas Filipinas. Aí perdemos a pista, mas continuo investigando e um dia encontraremos os responsáveis pela divulgação. O que me chama atenção é a enorme quantidade de fotos e vídeos colecionadas pelos culpados e o tipo de cenas gravadas. Como se o consumidor, que paga pelas imagens, precisasse de cenas cada vez mais fortes, com tortura física de crianças indescritível, como acorrentamento.

Os investigadores que precisam avaliar essas imagens sentem algum tipo de choque?

MEYER: Sobretudo os que têm filhos pequenos. Tenho dois filhos adultos, fico também chocado, mas procuro encarar o que vejo de uma forma profissional.