Título: Etanol e Chávez, motivos de aproximação entre EUA e Brasil
Autor: Peña, Bernardo de la e Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 08/02/2007, O Mundo, p. 30

Subsecretário americano reforça interesse no biodiesel e tema será discutido durante visita de Bush ao país

Bernardo de la Peña e Luiza Damé

BRASÍLIA. Preocupados com a influência de presidentes como Hugo Chávez, da Venezuela, e Evo Morales, da Bolívia, na América do Sul, os EUA buscam intensificar o contato com o Brasil. Essa aproximação foi tema ontem do encontro entre o subsecretário de Estado para Assuntos Políticos americano, Nicholas Burns, e o novo embaixador do Brasil no EUA, Antonio Patriota. O governo americano pretende ainda incluir nas negociações bilaterais com o Brasil a questão do biodiesel, segundo o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia. Ontem, Burns e o secretário de Estado adjunto para Assuntos da América Latina, Thomaz Shannon, foram ao Itamaraty e depois ao Palácio do Planalto ¿ onde se encontraram com Garcia e Dilma Roussef, ministra da Casa Civil.

¿ Os americanos estão muito interessados na experiência brasileira e querem, nas conversas políticas, dar uma ênfase muito grande ao biodiesel. O Brasil é auto-suficiente do ponto de vista tecnológico, da capacidade de investimento, mas podemos ter colaboração com outros países ¿ afirmou Garcia.

Para reforçar as relações bilaterais, estão sendo programadas para março uma visita do presidente George W. Bush ao Brasil e da secretária de Estado, Condoleezza Rice. Segundo Patriota, além dos contatos freqüentes entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Bush, representantes dos dois países discutirão mais temas como crescimento econômico, agricultura e comércio.

¿ Conversamos sobre relação bilateral, assuntos regionais, assuntos multilaterais e também sobre cooperação em energia, mudança no clima ¿ explicou Patriota.

Burns, ao falar do encontro, foi diplomático:

¿ Tivemos um ótimo encontro com o ministro Amorim. Discutimos tudo: Oriente Médio, assuntos do meio ambiente, bilaterais, nossas esperanças sobre progressos e acordos em biocombustíveis ¿ disse, evitando comentar sobre a Venezuela. ¿ Acho que é melhor tratar isso particularmente.

Depois do encontro, o ministro Celso Amorim disse que, na visita, Burns falou da importância do Brasil para os EUA e comparou a relação que os americanos querem ter com os brasileiros com as que têm com a Índia e a China. Segundo Amorim, Burns e os diplomatas brasileiros trocaram idéias sobre a Venezuela:

¿ Disse o que sempre digo e ele não discordou. Mas não posso falar em nome dele. A boa política não é a do isolamento, mas a do diálogo. É claro que é preciso que os dois queiram dialogar. Falamos um pouco do passado, como nas ocasiões, inclusive, que o Brasil pode ajudar no diálogo entre a Venezuela e outros países ¿ contou. ¿ O que eu ouvi dele foi que eles também têm disposição para o diálogo. Agora, como se processa isso, não chegamos a este ponto. A conversa se concentrou muito mais no interesse que os EUA têm numa relação forte com o Brasil do ponto de vista global e do etanol.

O ministro lembrou que o Brasil não vai dar recados dos americanos aos venezuelanos porque ¿há formas de diálogo sem a mediação do Brasil¿.