Título: A hora do ministério
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 09/02/2007, O Globo, p. 2

O presidente Lula é mestre em esticar a corda à espera do momento mais favorável a suas decisões, e assim vem adiando a reforma do Ministério, da qual dependerá a harmonia e a estabilidade da larga base parlamentar de que dispõe. Mas como esta semana as pressões subiram muito, ele deu início a sondagens e movimentos preliminares, podendo fazer algumas mudanças pontuais na semana que vem, deixando para depois o mais difícil, a acomodação do PMDB.

Para alguns auxiliares, ele pode começar pela nomeação do novo ministro da Justiça, já que o atual, Márcio Thomaz Bastos, começa a se impacientar com a demora. Optando pela transferência do ministro Tarso Genro para a Justiça, hipótese dada como mais provável, ele terá de nomear logo um novo articulador político. O nome recorrente, até por falta de alternativas, é o do ex-governador Jorge Viana (PT-AC). Mas Lula poderia também, para evitar uma disputa perigosa pelo comando do PMDB, convidar o atual presidente, Michel Temer, deixando o campo livre para o ex-ministro Nelson Jobim, que tem sua simpatia.

Como a convenção dos peemedebistas será no dia 11 de março, Lula até gostaria de empurrar a decisão até lá. Negociando apenas com o novo comando, o custo poderia ser menor. Tendo conseguido o apoio das duas alas do PMDB ao governo, ele tem agora a necessidade de contemplar tanto o grupo que já o apoiava, liderado pelos senadores Renan Calheiros e José Sarney, como o grupo dos que entraram no barco agora. O dos cristãos-novos, como dizem os "velhos". Esse grupo, capitaneado pelos deputados Geddel Vieira Lima, Temer e Eliseu Padilha, ganhou força na eleição de Arlindo Chinaglia para a presidência da Câmara. No entendimento deles, o grupo Renan-Sarney já está contemplado com os ministérios de Minas e Energia e Comunicações. Lula teria que oferecer mais dois ministérios à bancada da Câmara, um para cada grupo. Pensam em Transportes e Saúde, não aceitando, como dizem, "ser barriga de aluguel" da indicação de José Gomes Temporão para a Saúde, feita pelo governador Sérgio Cabral, que ontem defendeu a candidatura de Jobim. O convite a Temer facilitaria as coisas. Mas qualquer movimento em falso, que descontente uma das alas, pode pôr tudo a perder.

Afora a necessidade de curar as feridas do bloco de esquerda ligado a Aldo Rebelo, as outras equações são mais simples. O PT vem aumentando a pressão para colocar Marta Suplicy na Educação. O atual ministro, Fernando Haddad, a pedido de Lula, está elaborando um plano arrojado de investimento na melhora da qualidade do ensino, do infantil à pós-graduação. Seria uma espécie de PAC da educação. Por mais que aprecie Marta, Lula pode não querer quebrar a continuidade do trabalho que vem sendo feito na pasta. Pode resolver o problema do PT de outro modo. Ou então, não lhe dar mais nada.

Ao PP Lula deve um ministério, que pode ser o das Cidades, já comandado por Marcio Fortes, nome que satisfaz os pepistas. O grupo petebista do ministro Walfrido Marres Guia, saindo ou não do partido, será atendido com a permanência do ministro, cujo trabalho à frente de Turismo muito agrada a Lula. O PR, ex-PL, pode voltar a Transportes (apesar do olho grande do PMDB).

O bloco de esquerda está magoado, mas já tem três ministérios. Dois do PSB (Ciência e Tecnologia e Integração Nacional) e um do PCdoB (Esportes). O que falta mesmo é contemplar o PDT, que finalmente aderiu formalmente ao governo.

Conta inexistente

Depois do desgastante apoio ao petista Arlindo Chinaglia na disputa pela presidência da Câmara, os tucanos tratam de recuperar o discurso oposicionista apresentando críticas e alternativas às medidas do PAC. Já os petistas não fazem o menor esforço para negar que houve um acordo, pelo menos com algumas alas, e ainda dizem que vão honrá-lo votando em candidatos tucanos nas assembléias legislativas. Isso já aconteceu na Bahia. Na de São Paulo, a eleição será em março. Em Minas já ocorreu, mas o governador Aécio Neves nega peremptoriamente que tenha havido tal acordo.

- Eu acho que foi equivocado o voto de alguns companheiros, inclusive de Minas, no candidato do PT. De outros estados não sei, mas aqui não houve acordo para a eleição da Mesa da Assembléia. O próprio PT sabe que isso era absolutamente desnecessário. Nossa base tem 65 deputados e o PT apenas nove.

QUEM está louco para ser ministro dos Transportes, na cota do PMDB, é o deputado mineiro Fernando Diniz. Mas Lula teria mais simpatia pela idéia de devolver a pasta a seu ocupante anterior, o hoje senador Alfredo Nascimento, do PR.

O RELATÓRIO da ONU sobre aquecimento global excita os parlamentos, inclusive o Senado americano, agora dominado por democratas. São convidados para um seminário sobre o tema, na semana que vem, o deputado Antonio Palocci e os senadores Renato Casagrande e Serys Slhessarenko.

TODO repúdio é pouco diante deste monstruoso crime dos bandidos que mataram no Rio uma criança de 6 anos, arrastando-a como fardo preso ao carro. Monstros, não há outro nome. Bem diz o deputado Chico Alencar: "Não há futuro para uma sociedade que se desumaniza tanto assim, em que a autoridade pública não tem força para inibir a barbárie e só o desprezo à vida prospera."