Título: PT festeja 27 anos em clima de carnaval e guerra
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 09/02/2007, O País, p. 5

Comemoração em hotel de luxo em Salvador, hoje e amanhã, também terá discussão sobre o poder no partido

Ricardo Galhardo

SALVADOR. Palco de uma das maiores vitórias eleitorais do PT nos últimos anos, Salvador abriga hoje e amanhã a festa em comemoração aos 27 anos do partido, com direito à presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao contrário do ano passado, quando o PT, em plena crise do mensalão, optou por uma comemoração franciscana, o aniversário deste ano será celebrado em grande estilo, com direito a hotel cinco estrelas, show do Ilê Ayê, e festa para cinco mil pessoas em um dos mais badalados espaços da capital baiana. Nos debates internos, porém, o clima de carnaval dará lugar ao de guerra. Um grupo de mais de 200 petistas, entre eles três governadores, quer aproveitar o momento para iniciar um movimento de redivisão interna de poder e revisão das práticas que levaram o partido às suas maiores vitórias, mas também às piores crises.

Grupo de Tarso quer dividir o Campo Majoritário

O objetivo do chamado grupo refundacionista, agrupado em torno do documento "Mensagem ao Partido", é dividir o Campo Majoritário, corrente que comanda o PT há mais de 12 anos sob a batuta do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu. Redigido inicialmente pelo ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, o documento incorporou sugestões e alterações de nomes históricos no partido, como a filósofa Marilena Chauí, o economista Paul Singer, o sociólogo Gabriel Cohn, o historiador Luís Felipe Alencastro, a psicanalista Maria Rita Kehl e a professora Maria Victoria Benevides, e é subscrito por vereadores, deputados federais e estaduais, prefeitos e sindicalistas, muitos deles ligados ao Campo Majoritário mas descontentes com os rumos e os métodos de direção do partido.

A Democracia Socialista (DS), segunda maior corrente do partido, aderiu ao movimento encabeçado por Tarso, assim como os governadores Ana Júlia Carepa (Pará), Wellington Dias (Piauí) e Marcelo Déda (Sergipe).

A ausência de muitos líderes do Campo Majoritário na última reunião da corrente, em São Roque, é interpretada como um sinal de enfraquecimento da tendência hegemônica. No entanto, nomes importantes do PT que têm demonstrado insatisfação com os métodos da direção, como o anfitrião da festa, o governador da Bahia, Jaques Wagner, o ex-governador do Acre Jorge Viana, o ministro do Combate à Fome, Patrus Ananias, e o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, se mostraram reticentes em assinar o texto.

Líderes da tendência hegemônica fazem ameaças

Segundo fontes petistas, o motivo seria a reação brutal de líderes do Campo Majoritário, que estariam ameaçando com retaliações aqueles que aderirem ao movimento. O principal alvo, até agora, tem sido o próprio Tarso Genro, cujos esforços em busca do Ministério da Justiça têm sido bombardeados por integrantes do Campo Majoritário. O presidente Lula orientou os ministros petistas, à exceção de Tarso e de Marco Aurélio Garcia, a não assinarem nenhum dos documentos apresentados pelas correntes do partido.

- É o início de um movimento. O objetivo não é conseguir todas as assinaturas agora - minimizou o secretário-geral do PT, Joaquim Soriano, integrante da DS.

A meta dos refundacionistas é o processo de eleição direta (PED), que deve ser marcado para o fim deste ano e escolherá a nova direção do PT.

FOGO AMIGO: ALAS DO PT CRITICAM BC , na página 27