Título: Brasil e EUA ampliam acordo de colaboração
Autor: Carvalho, Jaílton de
Fonte: O Globo, 09/02/2007, O País, p. 8

Países vão intensificar ajuda mútua no combate ao crime organizado, à lavagem de dinheiro e ao terrorismo

Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e o procurador-geral dos Estados Unidos (o cargo equivale ao de ministro da Justiça), Alberto Gonzales, decidiram ontem ampliar o acordo de extradição firmado em 1961, para incluir lavagem de dinheiro e terrorismo, entre outros crimes passíveis de extradição. Os dois decidiram também que, a partir de agora, os ministros da Justiça de Brasil e EUA vão fazer reuniões semestrais para intensificar a colaboração dos dois países no combate ao crime organizado.

O governo brasileiro tem recorrido com freqüência aos pedidos de cooperação às autoridades americanas em busca de informações complementares às grandes operações da PF contra lavagem de dinheiro e evasão de divisas, entre outros crimes financeiros. Documentos obtidos pelos americanos tiveram importância decisiva no esclarecimento do caso Banestado, sobre um esquema de remessas ilegais e lavagem de dinheiro de mais de U$15 bilhões. A polícia americana colaborou com informações sobre a origem de parte dos dólares usados por um grupo de petistas para comprar um dossiê contra tucanos nas últimas eleições.

A equipe de Bastos esperava que Gonzales fizesse alguma cobrança em relação ao combate à pirataria no país. Auxiliares do ministro até prepararam um relatório para mostrar os avanços da PF, da Receita e outras instituições de repressão aos crimes contra a propriedade intelectual. Mas Gonzales preferiu saber sobre incursões de terroristas ou financiadores de terroristas na região da tríplice fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina).

O diretor da PF, Paulo Lacerda, relatou as medidas preventivas que o governo vem implementando na região. Mencionou a criação de um centro de inteligência em Foz do Iguaçu e outras medidas adicionais de vigilância na região.

"Não temos sinais da presença de terroristas"

Bastos reafirmou a posição de que não há indícios de presença de terroristas ou de financiadores de terroristas no país. Desde o 11 de Setembro, setores do governo americano levantam suspeitas sobre supostos centros de financiamento de terroristas na tríplice fronteira.

- Disse que não temos sinais da presença de terroristas e nem de financiadores de grupos terroristas - disse Bastos.

O ministro reafirmou que o país tem mecanismos de segurança específico, como o Centro de Inteligência de Foz do Iguaçu, capazes de identificar e reagir a qualquer ameaça. Bastos e Gonzales conversaram sobre combate a crimes na internet. O procurador-geral americano reconheceu o esforço das autoridades brasileiras contra os crimes cibernéticos e até contra a pirataria. Hoje, ele fará uma palestra no consulado da Suíça, no Rio de Janeiro, sobre danos do comércio ilegal.

- Temos debatido o árduo e intenso trabalho do Brasil no combate a crimes cibernéticos e violação da propriedade intelectual - disse Gonzales.

Bastos e Gonzales se encontraram ainda num almoço na casa do embaixador americano. Gonzales perguntou a Bastos qual é o principal adversário do Brasil na América do Sul. Para alguns convidados, Gonzales queria saber se havia uma rivalidade política entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e algum outro líder político na região, como Hugo Chávez.

- Rivais nossos aqui só os argentinos. No futebol - desconversou Bastos.

'Bispos': país vai reforçar pedido de extradição

Argumento será o combate internacional à lavagem de dinheiro

BRASÍLIA. O Ministério da Justiça vai reforçar o pedido de extradição do casal Estevam e Sônia Hernandes, da Igreja Renascer. O Brasil vai fundamentar o pedido às autoridades americanas com base na Convenção de Palermo, que trata da cooperação internacional para combate ao crime organizado e à lavagem de dinheiro. A convenção seria uma alternativa às brechas do tratado de extradição entre os dois países, que ainda não trata especificamente de lavagem de dinheiro. O pedido foi feito no início do mês e a Justiça brasileira tem 60 dias, contados a partir da primeira solicitação, para apresentar motivos adicionais para a extradição.

Estevam e Sônia foram presos pelo FBI (polícia federal americana) em 9 de janeiro, em Miami. Os dois são acusados de tentar entrar com R$56 mil nos Estados Unidos sem declarar a quantia às autoridades americanas. A 1ª Vara Criminal de São Paulo também decretou a prisão dos dois e endossou o pedido de extradição do casal. Eles estão sob investigação do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público.