Título: Menor acusado deve ficar detido só por 3 anos
Autor:
Fonte: O Globo, 09/02/2007, Rio, p. 11

O outro bandido, que tem 18 anos e confessou o crime, pode ser condenado a pena de 20 a 30 anos de prisão

Cerca de 18 horas depois do crime, sete policiais do 9º BPM (Olaria) prenderam as duas pessoas que teriam roubado o Corsa de Rosa Cristina Fernandes e causado a morte de seu filho de apenas seis anos, João Hélio Fernandes Vieites. Diego Nascimento da Silva, de 18 anos, e um menor, de 16 anos foram encontrados na favela São José da Pedra, em Madureira. Eles responderão por latrocínio (roubo seguido de morte). A pena para Diego varia entre 20 e 30 anos. O menor, no entanto, só poderá ficar detido por no máximo três anos, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o que reforça a sensação de impunidade nas pessoas que ficaram horrorizadas com o crime.

- Isto é uma desumanidade. Mesmo assim, o menor logo voltará para a liberdade - disse Marcos Antônio Castro, que foi à delegacia de Marechal Hermes acompanhar de perto o desfecho do caso.

Pai ajuda a polícia a encontrar o filho

Para investigar uma informação dada ao Disque-Denúncia, policiais do batalhão de Olaria foram à Rua Bornéu 238, onde foram encontrados o pai de Diego, Reginaldo, e sua madrasta, Maria Cinara de Oliveira. O local é muito próximo da Rua Caiari, onde o veículo fora deixado. Ele foi levado para a delegacia e ajudou os policiais cedendo uma foto do filho, com quem não tinha um bom relacionamento. Segundo PMs, ele estava muito nervoso e chegou a chorar.

- Não tenho nada a ver com isto. Sou um sofredor - disse o pai de Diego Nascimento, que precisou tomar calmantes para conseguir prestar depoimentos.

Segundo a madrasta, Diego mora nos fundos da casa por causa de desentendimentos com a família:

- Ele não falava comigo e já arrumou problemas. Uma vez foi trazido algemado por PMs, mas não foi preso.

Durante a tarde, a ligação de Diego para o celular de um amigo solucionou o caso. Indignado com a atitude dele, esse amigo ligou para o batalhão e passou aos policiais o número do telefone fixo usado por Diego. Os policiais então levantaram o endereço e foram para o Morro São José da Pedra, em Madureira. Com a foto dele em mãos, os policiais reconheceram Diego sentado junto com dois amigos numa escada no alto do morro, numa localidade conhecida como Beco da Vovó. Ele não reagiu.

- Perguntamos se ele era o Diego, ele disse que sim. Anunciamos a prisão e ele se desesperou - disse um policial.

Depois do crime, uma noite de sono

Juntamente com ele, foram presos o menor e um outro homem, de 19 anos, que foi liberado na delegacia. Segundo os policiais, ele também seria da quadrilha, mas não participou do assalto. Diego e o menor não tinham passagem pela polícia. Na delegacia, durante a apresentação para a imprensa, Diego confessou a participação na morte de João, mas negou que fizera intencionalmente.

- Não vi o garoto do lado de fora do carro. As motos e os carros, eu achei que estavam me perseguindo. Não queria o carro, só os objetos da vítima. Depois do crime, eu fui dormir na casa do X. (o menor). Estávamos com uma arma de brinquedo e não nos drogamos - disse Diego.

JOVENS CRIMINOSOS

A pouca idade de um dos suspeitos da morte do menino João e a crueldade que demonstrou durante o assalto remetem a outro assassinato, o de Ana Cristina Johannpeter, ex-mulher de um sócio do Grupo Gerdau, num assalto no Leblon, em novembro. Naquela ocasião, a polícia localizou rapidamente três suspeitos. Um jovem de 17 anos confessou ter atirado ao se assustar com um movimento de Ana Cristina. Ele foi para um abrigo para infratores, onde deve ficar no máximo por três anos.

"Hoje o Brasil está de luto (...) Dignamente, respeitando a sua morte, digo que não será com a violência, mas com o empenho, que vamos dar a todas as crianças educação, moradia, trabalho."

CECÍLIA ATTIE

Em mensagem para O Globo Online

"Que seja luto na cidade./Que toquem os sinos das igrejas./Que calem os políticos./Que acordem as consciências/Que chorem os olhos de todos./Mais uma criança morreu de modo atroz"

SANDRA MONARCHA SOUZA E SILVA

Em mensagem para O Globo Online