Título: Fogo amigo: alas do PT criticam BC
Autor: Beck, Martha e Duarte, Patricia
Fonte: O Globo, 09/02/2007, Economia, p. 27

Grupos defendem mudança em juros e câmbio. Para Mercadante, houve erro

Patrícia Duarte, Martha Beck e Cristiane Jungblut

BRASÍLIA. Mesmo com as indicações de que a política monetária do Banco Central (BC) não mudará, o PT começa hoje sua reunião do Diretório Nacional, em Salvador, mais do nunca unido nas críticas à autoridade monetária. Tanto as alas mais de esquerda quanto as consideradas mais moderadas do partido prepararam documentos em que defendem mudanças de atuação da autoridade monetária, liderada por Henrique Meirelles, sobretudo na questão de juros e câmbio.

O senador Aloizio Mercadante (SP), que assumiu a presidência da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), que semestralmente sabatina o presidente do BC, também disparou ontem críticas à autoridade monetária. Para ele, a equipe de Meirelles errou na calibragem dos juros recentemente, contribuindo também para a atual valorização excessiva do real.

- Quero deixar claro: não estou me associando e nunca me associei à bancada que quer trocar o presidente do BC. Não me envolvam nesse movimento! Quando critiquei a meta de inflação, ao mesmo tempo estava aqui defendendo o Meirelles - depois prosseguiu - Acho que a última decisão da ata do Copom, do BC, está errada. Não só é polêmica, porque foi 5 votos a 3, como há uma insatisfação no governo e na sociedade em relação a isso. Está errada. Os juros não explicam o câmbio, mas interferem. Seria muito mais prudente o BC tomar decisões a cada 30 dias - disse Mercadante defendendo que as reuniões do Copom voltem a ser mensais (em 2005, elas passaram a ocorrer a cada 45 dias), para permitir menos tempo para consertar decisões equivocadas.

Liderados pelo ministro Tarso Genro (Relações Institucionais), centenas de petistas peso-pesados ligados às alas de esquerda divulgaram uma longa mensagem em que pedem mudanças na política monetária.

"(É preciso) um novo padrão de gestão monetária e cambial pelo Banco Central, condição necessária para um crescimento sustentado da economia brasileira com distribuição de renda, expansão do mercado interno de consumo popular, geração sistemática de empregos e recuperação continuada do salário mínimo. Ampliação do Conselho Monetário Nacional, como defendem a CUT e o Conselho do Desenvolvimento Econômico e Social, e controle da entrada e saída do capital de curto prazo, que é apenas especulativo e instável."

O Campo Majoritário, ala menos radical e capitaneada pelos grão-petistas, entre eles o ex-ministro da Fazenda e atual deputado federal Antonio Palocci, também não vai poupar o BC. Levará documento em que contesta a atual política de juros.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, contemporizou:

- O PT é um partido autônomo, que tem direito de expressar suas opiniões, e elas serão analisadas.